terça-feira, 30 de dezembro de 2014

LUA




Noite bela, noite clara,
Noite tão enluarada,
Responde-me o que fazer
Ao ver teu brilho resplandecer,
Causando inveja a quem te vê.
Foco mágico não estático,
Às vezes alto, às vezes baixo.
Lua cheia, ora minguante,
Às vezes nova ou crescente.
Eis a bela incandescente,
Que fascinante a tanta gente!
Sempre ao escurecer,
Te olhar é um prazer.

Airla Gomes
Membro da APL

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

DO BANCO NÃO CONTO; DO JAIME, UM CONTO

Do banco do seu Jaime, aquele que o Mardone mencionou em sua crônica, nenhuma recordação tenho! Mas dele, como pessoa, tenho muito a contar. 
Quando criança, a minha mãe me tomava pela mão e seguíamos rumo à loja, ou mercearia, não sei ao certo, porque lá no comércio do seu Jaime, vendia-se o que se procurava. Tecidos, perfumes, brilhantinas, batons, rouges, pós compactos, sabonetes... A organização e a limpeza não ficavam muito aparentes. O espaço era pequeno. Um retângulo, separado ao meio por um balcão de cor escura. A minha mãe, que costurava ir por lá, à procura de tecidos. Ele sem muita simpatia, olhar cabisbaixo, vinha atender. Limitava-se a mostrar e responder somente o que a minha mãe perguntava. Não por querer destratá-la, mas pela sua natureza. Havia o respeito. Podia ser, também, porque a mamãe era uma mulher valente, danada! Sem papas na língua. 
Ele com seus dentes desgastados pelo tempo sorria um sorriso amarelado, salvo engano, encardidos pelo fumo que mascava. Calvo, cabelo branco e sempre penteado. Aqueles poucos fios de cabelos estavam sempre grudados de brilhantina, o penteado não desmanchava nem com o vento! Era o costume dos homens naquela época. Olhos pretos, redondos e pequenos. A barba branca, não lembro dela feita, também não era grande, era aquela barba por fazer. A barriga um pouco saliente, estatura mediana. O caminhar era arrastado, desgastando o chinelo. Não consegui lembrar do timbre da voz dele. 
Seu Jaime! As camisas eram de xadrez, brancas ou listradas. Não abotoava os dois primeiros botões, então, a camisa ficava escangotando (termo usado no interior quando se quer dizer que a roupa não tem um bom caimento ou está desajeitada no corpo). Daquele jeito que todos imaginam, caindo pra trás e encurtando na frente. A calça do vestuário era bege ou azul, tons sempre claros. 
Havia na companhia de seu Jaime duas mulheres: uma era, eu acho, a esposa e a outra, sua irmã. Não lembro o nome da esposa, mas era bem forte, cabelos lisos e castanhos, curto e partido ao meio. Seus vestidos eram soltos, mangas curtas e tinham golas, na cor branca, ou estampas florais pequenas. Simples em todos os aspectos. Não se via nenhum embelezamento. Já a irmã, que se chamava Inú, ou era a forma como as pessoas a tratavam, esta, era a vaidade em pessoa. Cútis muito branca, olhos e cabelos castanhos, cacheados mais ou menos na altura dos ombros. Gostava de um batom vermelho! Eu reparava, porque, sabe como é criança, me sentia atraída por cores vibrantes. Seus vestidos, sempre costurados no corpo, com fenda atrás e um tanto decotados. A cintura muito fina, quadris e busto bem avantajados, pernas grossas sempre à mostra. Os sapatos de salto alto, além de se banhar com uma fragrância, que a anunciava a dezenas de passos, de tão ativa. Mesmo com aquela boca vermelha, nunca presenciei um sorriso. 
Aos domingos não faltavam à missa e o mais da vida social não recordo. Não se ausentavam do comércio, que é uma atividade que exige a perseverança diária. Assim viviam as três pessoas de bem, respeitadas por todos na cidade de Coreaú. 
Vocês querem saber como veio a tona tantas memórias? Eu lhes digo que foi de uma infância bem vivida.

Airla Gomes
Membro da APL