terça-feira, 29 de abril de 2014

A TRAVESSIA

Até meados da década de 80 não havia, sobre o rio Coreaú, uma ponte que integrasse a cidade ao interior coreauense. Com isso, no período chuvoso no município, era praticamente impossível atravessar de um lado para o outro do rio, sem que corresse o risco de se afogar ou de ser pego por um redemoinho, pois apenas havia uma estrutura principiante de ferro da ponte. 

Os interioranos faziam uso de uma balsa, que prestava serviços a eles. Também tinha aqueles que utilizavam cabaças nas suas travessias e aqueles que enfrentavam com a cara e a coragem as águas caudalosas do rio. 

Num certo dia, um homem da comunidade de Boiadas precisou urgentemente ir à cidade comprar remédios para sua esposa que se encontrava enferma em casa. Na ida, ele conseguiu atravessar de balsa, mas quando precisou voltar, a balsa não estava disponível no momento, pois saíra em outra missão. 

O senhor, muito preocupado com a esposa e com seus filhos pequenos, não teve paciência de esperar o retorno do transporte aquático e tentou atravessar a nado. Quando chegou no meio do rio, veio um redemoinho e o pegou, levando-o às profundezas das águas e batendo-o nas pedras. 

Na tentativa de escapar do redemoinho, ele se desfez de suas roupas e, quando chegou às estruturas de ferro, conseguiu se segurar e dar um sopapo, fazendo com que se livrasse do redemoinho e saísse no outro lado do rio. 

Quando o homem conseguiu sair das águas, viu que tinha uma multidão de curiosos na beira do rio. Neste momento, ele correu para trás de uma moita, com muita vergonha, por se encontrar totalmente despido. 

Neste ínterim, uma alma bondosa foi ao seu encontro e disse:

– Filho, saia de trás desta moita! Não tenha vergonha! Você acabou de nascer e uma criança não tem pecados e nem vergonha de estar nua na frente das pessoas.

Depois destas palavras, o senhor saiu detrás da moita e foi ao encontro desta alma de Deus que tirou sua batina e o cobriu dizendo:

– Pronto, filho, você já pode ir para casa cuidar de sua esposa e dar-lhe seu remédio.

Em seguida, o homem agradeceu ao pároco e foi ao encontro de sua esposa que o esperava.

Jesus Frota Ximenes
Membro da APL

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