terça-feira, 29 de abril de 2014

TUPÃ, O ANJO NEGRO


Era só um vira-lata, como tantos outros vira-latas: mas era o Tupã, nosso cachorro de estimação, preto, pretinho da ponta do rabo à ponta do focinho. Fisicamente, não tinha nada além do negrume que se possa ressaltar, não era pequeno nem grande; médio. Mas era o Tupã. Amigo, protetor, sempre a nos companhar nas nossas andanças pela cidade e pelo mato. Ai de quem ou de que se atrevesse a nos importunar; o anjo negro manifestava sua ferocidade canina para nos proteger.

Falo sempre no plural da terceira pessoa porque a missão do Tupã não era das mais fáceis: tomou para si a responsabilidade de proteger quem ele considerava da família França, que não era pouca gente. Nossa casa lá em Coreaú ficava  ainda fica, mas não é mais casa nem é mais nossa e não tem mais Tupã para guardá-la  na rua de baixo, uma rua que vai se estreitando à medida que descia rumo ai rio. Toda a extensão frontal da casa e a corresponde parte da rua eram território demarcado do Tupã. Era quando ele resgatava a herança atávica dos seus ancestrais, lobos selvagens, protetores ferozes de seus territórios; qualquer pessoa transeunte, carro, bicicleta e principalmente cachorro, para o Tupã, era considerado invasor de seu território e reagia latindo, mostrando em aberto as mandíbulas ameaçadoras. Afora seus semelhantes, as bicicletas eram seus alvos preferidos; quando passavam, ele corria atrás latindo e tentando morder o pneu dianteiro, até que o invasor transpusesse os limites de seu território. Não era um cão violento, agressivo, mas era o Tupã, cumprindo sua missão de nosso cão de guarda. Não me lembro como ele chegou lá em casa, não me lembro dele cachorrinho; na minha memória ele começa a existe já cachorrão, melhor dizendo, adulto: como já disse, ele não era grande, era médio.

Ah, não sei se era por ele ser o negão que lhe emprestava um charme todo especial, pois as cachorras, e principalmente, aquelas bem "cachorras", quando estavam no cio, arrastavam atrás de si uma procissão de cachorros de todos os tipos e faziam questão de passar no território do Tupã: era um escarcéu que eu, menino, gostava de apreciar. Os latidos, as brigas se generalizavam entre os machos, enquanto a cadela disputada aguardava que o macho alfa se sobrepusesse aos demais para ganhar a prenda tão cobiçada. Quase sempre era o Tupã; se via a felicidade na alma da cadela por ter o tupã como amante. Esse era o Tupã! Vira-lata, valente e garanhão.

O tempo passava e as coisas iam tomando novo rumo na nossa família. O Tupã, como todo vivente, envelhecia, mas sempre vigilante e fiel e com saúde, nunca o vi doente. Até que chega o dia de nossa família se mudar de mala e cuia para a cidade de Sobral. Discutiu-se o que fazer com Tupã: ele ia ou ficava? Papai decidiu que ele ficaria, pois já estava velho; íamos morar numa cidade grande; um cachorro podia ser um problema. Não adiantaram as ponderações, decisão do Seu Carneiro tomada: prego batido, ponta virada. Consternação geral, tínhamos que nos separar do velho pretinho. Mas papai disse que não íamos abandonar o Tupã à própria sorte, porque o Zé Maria Gregório, casado com a Ia (Maria), que morou desde mocinha com nossa família e ajudou a cuidar de muitos de nós, iam ficar morando na casa e cuidar do Tupã, mas isso não aliviou muito nossa tristeza, não.

Chega o dia da mudança. Caminhão misto (metade boleia, metade carroceria), muito usado para fazer os horários de uma cidade à outra, parado em frente a casa. As mulheres e as crianças ocupariam as boleias, enquanto na meia carroceria se acomodariam os móveis, mantimentos e os homens. Nestes momentos de partida, os corações também se partem; afinal, deixam-se para trás as nossas memórias, os nossos amigos, o cantinho onde se costumava dormir, a janela de onde se apreciava o pôr do sol e se abria o guarda-chuva ou a sombrinha para ver a chuva cair e tantas outras coisas... E o Tupã.

A movimentação no longo corredor da casa era intensa, eram pessoas carregando mesa, cadeira, cama, sacos de redes, sacos de feijão, farinha e tudo que seria necessário na nova casa. Aos poucos a casa foi ficando vazia e o caminhão carregado: hora das despedidas, dos abraços e dos choros sentidos. Mas, e o Tupã? Atarantado, entrava e saia acompanhando cada objeto que se ia, até que seu instinto canino pareceu entender a gravidade da situação para a qual ele não foi informado. Parou o seu vai-e-vem e postou-se na calçada ao lado do caminhão, sentado sobre as patas traseiras em posição de observador. As pessoas ocupavam seus lugares no carro e ele a observar cada movimento, talvez acreditando que o último a subir o convidaria. Todos subiram. O anjo negro se inquietou e começou a andar em círculo em volta do caminhão, como último recurso para se fazer lembrar. O carro deu partida; daquele instante em diante, para nós, não existia mais o pra trás tão acolhedor, tão conhecido, só o pra frente incerto e desconhecido. O caminhão deixou para trás a cidade e entrou na rodagem de piçarra vermelha deixando para trás nuvens de poeira e de saudades. O Tupã, fiel amigo, correu enquanto pode, seguindo o carro, até que a poeira lhe embaraçou a visão e o fez voltar. Tupã definitivamente ficou aonde gostaríamos de nunca ter saído, mas a tristeza de deixá-lo nos acompanhou.

Alguns dias depois de já estarmos estabelecidos na nova cidade, na nova casa, recebemos a visita de amigos e familiares e os relatos que ouvimos foram de cortar coração. Disseram-nos que ninguém conseguia mais dormir nas casas da redondeza por conta do lamento e clamor de Tupã uivando na escuridão da madrugada e arranhando com suas patas dianteiras a porta de entrada da nossa casa. O relato era de cortar o coração de uma estatua de bronze. Depois da comoção a reação. Papai decidiu que iria buscar o Tupã para ficar com a gente em Sobral. E assim foi feito. Indescritível com palavras o reencontro, nem gente que tem alma manifestaria sua alegria e felicidade como fez aquele vira-lata pretinho.

A partir de então voltamos ao bom convívio com nosso anjo negro, que logo se adaptou ao novo ambiente e assumiu sua função de fiel protetor da ingrata família França. Mas ele, como tinha bom coração, já havia nos perdoado. Tupã estava velho, mas não definhava, continuava relativamente saudável, até que num certo dia sentimos sua falta e saímos a procurá-lo por uns matos da redondeza e fomos informados por pessoas conhecidas do bairro que ele estava morto ali perto. O encontramos e junto com ele enterramos parte da história de nossa infância de nossa família e de nossas saudades. Morreu como viveu, com a dignidade de um vira-lata fiel. Ah, meu anjo negro, nestas mal traçadas linhas, quis te fazer esta homenagem e te pedir perdão por ter-te feito sofrer por nós. Oh! velho Tupã, não foste só um vira-lata pretinho, pretinho da ponta do rabo a ponta do focinho que morria de medo de trovão... Logo tu, Tupã! Foste sempre nosso fiel anjo da guarda. Se tiver céu pra cachorro, Tupã, com certeza, estará lá. 

Mardone França

A EMPOLGAÇÃO DA RIQUEZA

Desde muitos anos, a partir do Holoceno, o homem tem uma usura de acumular bens; gosta de possuir coisas sempre mais que alguém e assim valorizar empolgadamente tudo o que possui. 

Maria do Socorro era órfã de mãe há dez anos; seu pai lhe cedera uma boa parte da herança que lhe pertencia por direito, à qual dividia também com um irmão. Imediatamente, este já gastara tudo com a bebida, farras, enfim... Socorro, uma mulher de uns vinte e poucos anos de idade, aproximadamente um metro e sessenta de altura, de grossura média, pele rosa-escuro, cabelos pretos, olhos marrons, unhas sãs e bem esmaltadas - gosta de ser rica, ambiciosa, lasciva, preconceituosa, mas diz que não é nada disso. 

Na casa dela, uma mansão luxuosa, a fachada é toda feita no capricho, cerâmica brilhante, portões de ferro e uma linda porta de acesso, uma veneziana de móvel resplandecente de cor vermelho vivo; na sala de visitas, importantes e preciosos móveis e estofados, tudo de alto valor, alto custo, onde se encontra valiosos objetos, bons e de última geração, tapetes riquíssimos em todos os batentes e carpetes. 

Em dias de festa, ela se pinta e se arruma toda para dançar e também mostrar a riqueza e o valor materialista. É exagerada em tudo: nas roupas, nos calçados, nos tamancos de salto alto, esplêndidos e de bons materiais; os cabelos liberam odor e brilho a uma distância de vários metros; nos lábios, batom 24 horas, cor inédita e resistente, e fazia inveja a qualquer mulher; usa também joias preciosíssimas, de outros materiais (ouro, diamante etc.); no pulso usava um relógio que, com certeza, teria custado uma fortuna. 

Quando dava minutos após o começo da festa dançante, ela saia com seu filho de casa, num carrão do ano e de cuja marca talvez ali naquela cidade não existisse outro igual.

Ela não frequenta a igreja, só porque lá tem é pobres! Certa vez uma pobre vizinha perguntou: 

- Socorrinha! Diz-me uma coisa, a Sra. não vai para missa, não? 

-Eu!? Não! - riu-se - Minha filha, rica e bonita, não preciso dessas coisas aí na minha vida. Não dependo de santos, igreja, missas para viver. Eu sou rica o suficiente. - bateu ela arrogantemente no peito como expressão de escárnio e menosprezo, cheia de tanto orgulho e ignorância. - Rica como eu, eu sou mais eu! Sou independente até de espíritos, como Deus, Jesus! Tenho muito dinheiro, muito! pois tenho condições para comprar a minha própria vida e a minha saúde, minha e do meu filho aqui. 

À ÚNICA ROSA DO MEU JARDIM

A ti eu agradeço
Por ter me ajudado
Sou mais do que feliz
Vivendo ao teu lado.

Nas horas boas e ruins
Sempre está comigo
Acompanhando e apoiando
Oferecendo o ombro amigo.

A extinção da relação
Certamente era prevista
Pela diferença de idade
Que sociedade tradicionalista!

De nossa união
Um fruto já brotou
Mostrando aos descrentes
Que o amor não se esgotou.

É por meio desses versos
Que exponho meu amor
A você grande mulher
Que luta sem temor.

Hélio Costa
Membro da APL

HOMENAGEM DA PARÓQUIA DE COREAÚ À DOM BENEDITO ALBUQUERQUE

Há sessenta anos, o então Padre Benedito Albuquerque, ainda muito jovem, celebrava a sua Primeira Missa e em seguida assumia a Paróquia de Nossa Senhora da Piedade em sua Terra Natal, Coreaú, foi motivo de muito júbilo para Seu Zé Barra, Dona Cocota e todos os seus familiares e conterrâneos. 

Coreaú era a época uma pequena urbe com três praças, algumas poucas ruelas periféricas e a maior parte de sua população rural possuidora de muitos problemas: fome e subnutrição, absoluta falta de assistência à saúde, inaceitáveis e desumanas cifras de mortalidade materno-infantil, maioria da população analfabeta. As únicas instituições de ensino eram o grupo escolar e algumas escolas em poucas casas, que asseguravam o ensino somente até o primeiro grau ou primário como era chamado este nível de ensino. 

Padre Benedito veio com determinação pétrea de inconformismo com esta situação e de assegurar oportunidade educacional a população com a convicção de ser este o único meio de reverter a miséria e assegurar promoção social e humana. 

Fundou o Educandário Nossa Senhora da Piedade, sendo ele Diretor, Professor, Gestor...Tudo. Selecionou alguns poucos abnegados e capacitados ao ensino em Coreaú e importou outros. Desta semente vicejou o Ginásio Nossa Senhora da Piedade, assegurando oportunidades sequenciais de ensino aos jovens talentos da terra, que seguiram seu destino na Universidade Federal do Ceará e de outros Estados do Brasil.

Padre Benedito, nunca abdicou de sua vocação de Educador sempre aliada e subordinada a sua longa e vocacionada trajetória de religioso seja como vigário em outras paróquias do interior e de Fortaleza até ser ordenado bispo para a Diocese de Itapipoca, sempre muito prestigiado pelos fiéis e pelo clero cearense e brasileiro, tendo exercido funções firmes e determinantes na pastoral da terra.

Dom Benedito, um pensador e intelectual da Igreja, mantendo, em todo o tempo, uma postura humana e discreta, mas muito firme, fez pós-graduação na Universidade Gregoriana de Roma, onde agregou saber e conhecimento. Hoje, ele é Bispo Emérito de Itapipoca e diria o Vigário Perpétuo da Paroquia Nossa Senhora da Piedade, de Coreaú, que não tenho medo de estar equivocado, foi e será para sempre a mais simples, mas, a mais querida das funções eclesiásticas exercida.

Dom Benedito, os seus conterrâneos coreauenses, os seus ex-alunos e descendentes serão eternamente gratos por tudo que foi feito em benefício de nossa terra e de nossa gente. Vossa Reverendíssima foi e será uma referência de Coreaú para o Clero em Geral, como Professor, Intelectual e Pastor da Igreja Católica.

Nossa Eterna Gratidão.

José Galba de Meneses Gomes
Membro da APL

Nota: este Texto expressa o sentimento de todos os Paroquianos de Coreaú e dos Ex-Alunos do Ginásio Nossa Senhora da Piedade, na ocasião das homenagens da Paróquia Nossa Senhora da Piedade de Coreaú aos sessenta anos de profícua vida Eclesiástica de Dom Benedito Francisco de Albuquerque.

A TRAVESSIA

Até meados da década de 80 não havia, sobre o rio Coreaú, uma ponte que integrasse a cidade ao interior coreauense. Com isso, no período chuvoso no município, era praticamente impossível atravessar de um lado para o outro do rio, sem que corresse o risco de se afogar ou de ser pego por um redemoinho, pois apenas havia uma estrutura principiante de ferro da ponte. 

Os interioranos faziam uso de uma balsa, que prestava serviços a eles. Também tinha aqueles que utilizavam cabaças nas suas travessias e aqueles que enfrentavam com a cara e a coragem as águas caudalosas do rio. 

Num certo dia, um homem da comunidade de Boiadas precisou urgentemente ir à cidade comprar remédios para sua esposa que se encontrava enferma em casa. Na ida, ele conseguiu atravessar de balsa, mas quando precisou voltar, a balsa não estava disponível no momento, pois saíra em outra missão. 

O senhor, muito preocupado com a esposa e com seus filhos pequenos, não teve paciência de esperar o retorno do transporte aquático e tentou atravessar a nado. Quando chegou no meio do rio, veio um redemoinho e o pegou, levando-o às profundezas das águas e batendo-o nas pedras. 

Na tentativa de escapar do redemoinho, ele se desfez de suas roupas e, quando chegou às estruturas de ferro, conseguiu se segurar e dar um sopapo, fazendo com que se livrasse do redemoinho e saísse no outro lado do rio. 

Quando o homem conseguiu sair das águas, viu que tinha uma multidão de curiosos na beira do rio. Neste momento, ele correu para trás de uma moita, com muita vergonha, por se encontrar totalmente despido. 

Neste ínterim, uma alma bondosa foi ao seu encontro e disse:

– Filho, saia de trás desta moita! Não tenha vergonha! Você acabou de nascer e uma criança não tem pecados e nem vergonha de estar nua na frente das pessoas.

Depois destas palavras, o senhor saiu detrás da moita e foi ao encontro desta alma de Deus que tirou sua batina e o cobriu dizendo:

– Pronto, filho, você já pode ir para casa cuidar de sua esposa e dar-lhe seu remédio.

Em seguida, o homem agradeceu ao pároco e foi ao encontro de sua esposa que o esperava.

Jesus Frota Ximenes
Membro da APL

domingo, 27 de abril de 2014

NOVOS MEMBROS DA APL



A Academia Palmense de Letras (APL), numa perspectiva de ampliação e consolidação a longo prazo, aprovou o ingresso de novos membros.
A cadeira n.º 09 será ocupada por Benedito Francisco Moreira Lourenço, graduado em filosofia e presidente da Fundação CIS.


A cadeira n.º 10 será ocupada por Raimundo Eliano Albuquerque, graduado em português e professor da Escola Flora Teles. 



A cadeira n.º 11 será ocupada por Hélio de Sousa Costa, estudante de Direito e responsável pelo Blog Araquém News.



A cadeira n.º 12 será ocupada por Francisco Erandir Lima Albuquerque, estudante de filosofia, professor e romancista.


A cadeira n.º 13 será ocupada por Airla Gomes Moreira Barboza, professora e artesã, coreauense radicada em Fortaleza/CE.


A cadeira n.º 14 será ocupada por Cosmo Moreira de Carvalho, engenheiro e advogado, coreauense radicado em Boa Vista/RR.


A cadeira n.º 15 será ocupada por Jesus Frota Ximenes, mestre em Literatura Comparada, coreauense radicado em Fortaleza/CE.


Aos novos membros da APL, nossas saudações e nossos votos de boas-vindas!

Eis a titularidade das atuais 15 (quinze) cadeiras ocupadas da APL, com seus respectivos patronos:

Cadeira n.º 1: Manuel de Jesus. Patrono: Ariano Suassuna;
Cadeira n.º 2: Eliton Meneses. Patrono: Graciliano Ramos;
Cadeira n.º 3: Benedito Rodrigues. Patrono: Milton Santos;
Cadeira n.º 4: João Teles. Patrono: Darcy Ribeiro;
Cadeira n.º 5: Fernando Machado. Patrono: Machado de Assis;
Cadeira n.º 6: Galba Gomes. Patrono: Raimundo Gomes;
Cadeira n.º 7: Anatália Carvalho. Patrono: Rachel de Queiroz;
Cadeira n.º 8: Davi Portela. Patrono: Gilberto Freyre;
Cadeira n.º 9: Benedito Lourenço. Patrono: A definir;
Cadeira n.º 10: Raimundo Eliano. Patrono: A definir;
Cadeira n.º 11: Hélio Costa. Patrono: A definir;
Cadeira n.º 12: Erandir Lima. Patrono: José de Alencar;
Cadeira n.º 13: Airla Barboza. Patrono: A definir;
Cadeira n.º 14: Cosmo Carvalho. Patrono: Raul Pompeia;
Cadeira n.º 15: Jesus Ximenes. Patrono: Moreira Campos.

O QUINTAL DE MINHA CASA

É um lugar aprazível
Temperatura amena
É o recanto dos pássaros
São sempre bem vindos
Beija-flor, papagaios
Bem-te-vis e rolinhas
Anus e galos de campina 
E outros que nem sei o nome
A passarinhada sobrevoa, pousa e brinca a vontade 
Alimenta-se, bebe, passeia e repousa
Cedo da manhã e final de tarde
Uma verdadeira festa da natureza
E como agradecimento
Cantam e encantam
Os moradores do lugar
Feitos casais de enamorados.
Nele tem fruta do conde e carambola
Goiaba, romã e graviola. 
É o paraíso dos pássaros
Também tem grama e casa de cachorro
Tem chuveiro chapéu mexicano
E irrigação semiautomática
Com espinheira trepada no muro
Uma fortaleza na outra lateral
No portão dos fundos uma rua preferencial
E uma linda churrasqueira funcional
Sem falar na preguiçosa varanda
Com uma grande rede de algodão cearense
Embalam a paz e o descanso
A harmonia, o prazer e o silêncio dos ouvintes
Só quebrado pela sinfonia dos visitantes
De encher os olhos e o coração de alegria e gratidão. 

Cosmo Carvalho

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O QUE VOCÊ QUER SER?

O que você quer ser?
Uma pessoa normal
Levando uma vida de moral,
Mas com pouca convicção do que se passa nessa armação?
O que você quer ser?
Um louco lunático
Que critica tudo é apático,
Que participa da manifestação,
Mas não sabe ao certo a razão?
O que você quer ser?
"Um poeta louco
Que se contenta com pouco"*
Que fala de amor,
Mas sente pavor?
O que você quer ser?
Um eterno palhaço
Que arranca risos em estilhaço
Faz de tudo uma eterna piada,
Mas leva uma vida fria, parada...
O que você quer ser?
Quer ser protagonista da própria história
Ou um simples figurante, um escória?
O que você quer ser?
Quer revolucionar,
Lutar e atuar...
Ou quer acomodar
Sua bunda gorda no sofá?
O que você quer ser?

Milena Policarpo
Coreaú - CE
__
*Citação de versos de J. Castro.

terça-feira, 15 de abril de 2014

À CLARA DAMA

Pintura de Mercedes Garcia Bravo
Reservo a ti somente um pedido:
dê-me um sorriso teu encabulado,
pois mal surgiu, tão logo foi findado
e chorei a perda, por ter ido.
Nada mais a contar, por cá ferido,
das agruras do verbo de quem ama.
Não me julgo poeta; eu sou a chama
que consome-se a dois entre abraços...
e se esfria ao romperem-se os laços
do amor que é nosso, ó clara dama!

Benedito G. Rodrigues

PENSAMENTOS

Pintura de René Magritte.
Aos domingos vago pelas ruas desertas,
E calmas. Nelas, eu e algumas pessoas
A caminho da igreja. Em pensamentos,
A cabeça silencia até ao destino chegar.

Vejo tudo e nada vejo, isso é fato, é traquejo,
Reflexão, indagação, ou exclamação?
Vago só, ou não, então... O olhar se perde
Na sombra acinzentada no chão.

Ideias, não me faltam! Mas a pressa de expor
Gera dúvida nas propostas e ficam sem respostas.
É! Em meios a tanto suspense, chega muito de repente
A lembrança do passado, do ausente, do presente, ciente...

Vida, vivida, medida! Que programa determina,
Predestina. suscetível a erro, acerto, desfecho
Finalizado, inacabado, atormentado, ou explicado.

Assim flutuamos na imensidão do cosmos.
Enquanto isso: a obscuridade meu eu adormeci
Fantasiando objetos, vidas e existências inusitadas,
Que permeiam a roda viva que gira incessantemente.

Airla Gomes M. Barboza

domingo, 13 de abril de 2014

ESPECIAL

Teu sorriso meigo e inexprimível
É, para mim, fonte inesgotável de ternura,
Quem dera algum dia ser eu
A causa de tamanha ventura.

Teu jeito discreto e gracioso
Embaraça o que há de mais puro em meu ser,
O simples toque de tua mão suave
Faz-me oscilar entre sonho e o real.

A sua doce voz ecoa dentro de mim,
Perturbando-me os sentidos,
Porém me sinto abençoado
Ao contemplar o seu olhar.

Kelvis Albuquerque

sábado, 12 de abril de 2014

SECA

Que impõe esse clima escaldante
Que não traz a bendita chuva
Que na medida propicia
Vida alegre e farta
Mas sem ela, a seca é
Que afasta
Que afugenta
Que aniquila (flora e fauna)
Que sofrimento impõe (para todos)
Que aproxima a desesperança
Que família desfaz
E o retirante sai perdido
Em busca de novas plagas
A procura de melhor sobrevivência
Perde a referência longe do torrão natal
Para resistir, talvez, quem sabe
De maneira mais preparada
A próxima que virá.
E o sertanejo deposita
Toda sua esperança
No Pai de JESUS (São José), e de São Pedro também
Para a chuva voltar a cair
O homem plantar o campo
A fartura ressurgir
E a vida melhorar.

Cosmo Carvalho

sábado, 5 de abril de 2014

INVERNO



Um raio na noite escura 
Alumia a linha da serra; 
A chuva escorre na terra; 
O inverno espraia fartura. 

No vale renasce a verdura; 
O drama da seca encerra. 
No quintal o cabrito berra, 
Do mato recende ventura. 

O sertão de chofre recria: 
O sapo cantor da ribeira; 
Borboleta a voar no oitão. 

 Na roça campeia euforia; 
Tem legume na capoeira; 
No chiqueiro, gordo leitão.

Eliton Meneses