segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

VIDAS DIFÍCEIS

Eu estava aqui pensando nas atitudes de alguns bombeiros. A pergunta é uma arte e eu me perguntei: "Por que aquele bombeiro se insinuou para mim daquele jeito se eu não sou e nem pareço ser uma qualquer?" E, aqui no meu quarto, longe da loucura de Fortaleza, pude dormir melhor, pude pensar com calma e pude analisar também. Eu perguntei para mim mesma se ele é um "cabra safado". 
Bem, assim como foi precipitado da parte dele falar bobagens repetidas vezes, e precipitou-se com sua sinestesia exagerada para comigo tentando me seduzir, sabe Deus o motivo, seria precipitado de minha parte dizer: "Ele é um cabra safado!" 
A pergunta é uma arte e a empatia é um dom. O militar se doa, se arrisca e não importa o quanto receba em soldo, a compensação para ele não é financeira. Ele me disse que a vida de militar é muito difícil e eu sei o que ele quis dizer. Eu sou uma pessoa que faz qualquer coisa por uma boa causa. Sou Educadora! Não raras vezes me arrisquei, me doei, e só recebi ingratidão em troca. Eu estive no Corpo de Bombeiros à procura de um Major para lhe mostrar um projeto social e fui assediada por um Cabo. 
Fiz o Termo de Declaração contra o mesmo e ele me procurou aflito, arrependido, e me pedindo desculpas. Implorou para que eu comunicasse aos seus superiores que ele foi se retratar comigo e assim o fiz... No entanto, seu chefe imediato disse que iria levar o caso adiante. 
Com medo de ser injusta e de contrair um inimigo, escrevi uma carta retirando a queixa. Levei em consideração as vezes em que, geralmente, empolgada por sair ilesa de uma situação de risco, cometi alguns excessos e fui perdoada. Claro que nunca cometi assédio sexual, mas já fiz coisas que, ao me lembrar depois, paro e penso: "Meu Deus, por que fui tão idiota?"
A resposta é: "Porque você é humana!" 
Eu perdi a conta de quantas vezes fiz o bem pra um monte de gente e estava sendo cruel comigo. Não conto as vezes em que, andando na rua murmurei: "Preciso de uma compensação para minha vida", ou seja, queria colo. Queria beijo, abraço, carinho, cama... Mas só tinha (e tenho) os filhos dos outros para cuidar. 
Vida de educador também é muito difícil e mal remunerada. Já separei briga de alunos, já acalmei ânimos adolescentes alterados, aluno querendo matar colega; desarmei crianças em sala de aula, enfrentei mãe com peixeira na cintura, aluno drogado, ex-aluno morrendo para roubar ferro e trocar por crack e já fui ameaçada de morte por um aluno só porque mandei entrar para a sala de aula. Ganho beijos e abraços e carinho, cartinhas e presentes das crianças... Isso é bom, mas o meu lado mulher me cobra um homem para aliviar tensões e dividir vitórias. Estou diariamente carente e preciso me conter por causa do alto preço de ser quem sou. 
Os bombeiros militares dão a vida em troca da vida de desconhecidos. Enfrentam todo tipo de problema que o ser humano é capaz de lhes dar. Absorvem as loucuras dos suicidas, outros, que desafiam os perigos dos mares, tocam fogo em tudo e eles lá estão para suprir as necessidades dos filhos das mães, imprudentes, irresponsáveis, mas humanos. Todos com problemas sexuais, buscando uma compensação para suas vidas difíceis. Em casos extremos, sentem-se tentados a recompensar por si mesmos suas vidas nada compensadas. 
Então, nesse dia, o Cabo que me assediou tinha ido apagar um incêndio no Pão de Açúcar às 4:00h com o tal Major. Foi uma missão bem sucedida, graças a Deus. Ele não pensou no preço a pagar por ser o que é; simplesmente, buscou a compensação para sua vida difícil com a pessoa errada: Eu, a "prima do Major"!
Ele me jurou de pé junto que nunca mais fará o que fez, com nenhuma outra pessoa. Espero que tenha aprendido a lição.

Solange Guimarães
Vice-presidente da Academia Aracatiense de Letras

Um comentário:

  1. Grande crônica, de uma refinada escritora, confrade da coirmã AAL (Academia Aracatiense de Letras), da qual também tenho a honra de ser membro.

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