quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A ARTESÃ



Na Palma, 
em casas humildes, 
vi mães sentadas entre os filhos
e a seu lado palhas de carnaubeira, 
maduras, tingidas e corretamente riscadas.

Daquelas palhas, 
 de suas sofridas mãos 
 movidas pela necessidade, 
 surgiria uma obra. 

 A artesã 
 pega da primeira palha, 
 entrelaça com outra e outras mais, 
 e com a rapidez e precisão de um tear 
 tece a partida.

 Palhas são acrescentadas, 
 seguindo a ordem estabelecida
 e os dedos começam a vibrar 
 num rápido e síncrono movimento. 

 Colocando mais palhas, 
 seguidas de mais vibrações, 
 já se define a copa... 

 Chora o recém-nascido, 
 tá na hora do mingau, 
 a mãe vai ao fogão
 e quando volta, 
 Coloca mais palha,
 e começa a tecer aba. 

 Termina a aba, 
 puxa a aba para cá e para lá,
 corrigindo sua forma 
 e inicia os arremates, 
 virando as pontas das palhas 
 e dando pequenos nós.

Corta as sobras, põe na forma, 
 passa o ferro de engomar, 
 tira qualquer defeito
 e pronto esta a obra,
 um chapéu de palha, 
 que vendia ou trocava 
 por comida no comercio.

O comerciante
 revendia a um atravessador,
 que revendia ao exportador, 
 que exportando 
 aumentava sua fortuna,
 enquanto a artesã sem opção 
 continuava a fazer chapéu.

Bem longe, 
 em terras que a artesã desconhecia,
 o chapéu era tratado, 
 exposto em chiques lojas
 e adquirido por quem almejasse 
 um toque na elegância. 

 Porém,
 como tudo tem seu tempo,
 a demanda por chapéu passou, 
 sem ela caíram os preços, 
 obrigando a artesã 
 a inventar uma outra obra, 
 pois,
 se continuasse a fazer chapéu,
 iria de pobre a miserável.

Wilson Belchior

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