sábado, 28 de dezembro de 2013

OS CAÇADORES DE CALANGO!


Sempre gostei de relembrar o meu tempo de criança... Faço isso com o intuito de observar aquilo que fiz ou deixei de fazer, rever os ensinamentos de meus pais, as provações, as conquistas, etc. Nessa andança pelo labirinto de minha mente, encontrei algo interessante que praticava com meus irmãos e, às vezes, com alguns colegas. 

Trata-se de nossa caçada aos calangos, um tipo de lagarto que encontramos em fendas, buracos ou no telhado das casas. Nós o pegávamos não com o objetivo de lhes tirar a vida, mas somente para nos divertir com a captura, soltando logo depois. 

O meio utilizado para pegá-los é o que mais chama atenção. Afinal, como aprisionar o lagarto sem machucá-lo? Então elaboramos uma armadilha que sofreu o seguinte processo: no matagal cortávamos uma vara de dois metros de cumprimento, de preferência sem curvatura; com um saco de ráfia (aqueles utilizados para transportar alimentos) nas mãos, tirávamos uma linha e formávamos um laço que era colocado na ponta da vara. A armadilha se parecia muito com uma vara de pescar, só que ao invés do anzol se tinha o laço. 

Com a vara nas mãos a captura era simples. No entanto, exigia do manuseador destreza e muita paciência, sem as quais tornaria difícil obter o resultado planejado. Alguns calangos mais espertos fugiam, deixando a brincadeira mais legal. 

Essa é uma parte de minha vida da qual não esquecerei e que, com orgulho, compartilho com vocês.

Hélio Costa
Araquém, Coreaú - CE

O QUADRO QUE FUI

Fui ontem o quadro na parede da vovó,
coberto de poeira e desgastado pelos anos.
Uma foto preto e branco,
acinzentada e ruída pelas traças -
metade pintura, metade passado.

A moldura toda enferrujada, já sem brilho,
é o invólucro desta lembrança,
que se consumiu quase por inteiro -
viva frieza do que não volta!

Mas
eis que cresce,
ao canto do quadro,
a pequena casa de barro,
moldada parte a parte,
grão a grão de lama,
pela vespa do amanhã,
que deposita ao seu fundo
o seu filho.

E então
Vejo-me habitado, 
em minha morte,
pelo intruso tempo
que não pede permissão.

Benedito Gomes Rodrigues

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

AO MEU PAI

De inverno a verão,
A labuta é a mesma;
O trabalho no roçado
Abastece-lhe a mesa.

Desde o nascer do sol,
Ele acorda animado,
E de logo vai e começa
A amolar foice e machado.

Seu rosto enrugado,
Expressa com exatidão,
Tantos anos de trabalho,
No sol forte do sertão. 

Desse cara tenho orgulho,
Por coragem demostrar.
Refiro-me ao meu pai,
Raimundo Rodrigues da Costa.

Hélio Costa

UMA CASA CHAMADA APL

Nossa Academia é uma casa de portas abertas, embora não tenhamos, de fato, nenhuma porta, ou teto, ou parede sequer dessas mais comuns feitas de cimento, tijolo e madeira. Antes que um leitor desavisado nos compare “À Casa” do Vinícius de Moraes, faço lembrar que somos mais do que uma metáfora. 

Aqui, como numa verdadeira casa, muita gente pode encontrar refúgio e se sentir bem recebida. Aqui, diferente da maioria das casas, que guarda e até mesmo esconde os objetos e as pessoas que lá se encontram, estamos para dar visibilidade, mostrar o que ficara encoberto, a saber, alguns dos talentos (sobretudo na escrita) de nossa terra, atual Coreaú, saudosa Palma. 

Se tal é nosso intento, com grata alegria, neste dezembro de 2013, anuncio: a ideia nascida despretensiosa, numa brincadeira fortuita de feriado, ganhou proporções inesperadas. Por mais que a atuação da APL tenha sido ainda tímida, provamos, com este blogue, com a realização do 1º Concurso Literário de Coreaú [ainda em andamento], e com outras ações específicas que vieram e virão, que há, sim, em Coreaú muito potencial de desenvolvimento cultural.

A ideia da APL avançou fronteiras. Pessoas de outros municípios, e até de outros estados, que conosco se comunicam e tiveram contato com a proposta da APL ficam, de pronto, interessadas a admiradas com uma Academia que quer ir além das láureas. Iniciativas noutros cantos estão se germinando com o impulso singelo de nosso exemplo; tomara que vinguem! Isso significa que, se pouco fizemos, com o ânimo novo que ganharemos em 2014, muito mais há de se fazer. 

E não estamos sozinhos... Outras ideias têm germinado e dado a Coreaú - na base da resistência - as suas contribuições à Cultura. Estaremos abertos para apoiar no que pudermos a elas também. 

A esperança é de que o que tem sido feito - muito pequeno ante o que queremos e é necessário - seja somente o começo e que, em conjunto, mais pessoas se engajem, mostrem seus talentos e arregacem as mangas para fazer “chover arte nos terreiros da Palma”, como asseverei um dia num de meus poemas. 

Gratidão a todos que contribuíram de alguma forma neste blogue (mandando seus textos), participando do Concurso, acompanhando-nos e que - se não agora, mas futuramente - estarão também conosco nesta empeleita. É nas pequenas ações que se faz História!

Benedito Gomes Rodrigues
Membro da APL

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A LONGA ESPERA

Pintura de Natália Rosin.
O vento que sopra 
A brisa do mar 
O verde das folhas 
A luz do luar 

A doce menina 
A se balançar 
Por alguém espera 
Sem se cansar 

O dia e a noite 
O ir e o voltar 
A longa demora 
Onde vai parar?

Será que um dia 
Ele chegará? 
Não pode prever 
Somente esperar

Sergiane Gomes
Cunhassu dos Sales, Coreaú - CE

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

HUMANO AGORA

Chore e deixe o vento enxugar as lágrimas, e que o sal arda em seus olhos para saber o gosto de enxergar a própria miséria. E aí, quando não mais possuir as coisas que julgou tão necessárias, quando perceber que nenhuma delas era sua, poderá, quem sabe, se sentir mais livre ou mais leve, com menos um fardo que lhe logravam aquelas expectativas mesquinhas que você alimentou. 

Não adiarei mais nem o sorriso, nem o choro, ou a mistura dos dois - a mais exasperada de todas - para ser humano agora, com todas as vicissitudes e seus diferentes sabores de ser gente.

Benedito Rodrigues

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

VESPASIANOS X TITOS MODERNOS...

Corria o ano 79 d.C, quando Vespasiano, o imperador do império já em decadência do seu leito de morte chamou Tito seu filho e sucessor imediato para uma conversa ao pé de ouvido.

Disse-lhe ele, Vespasiano: "- Tito meu filho... Cônscio que estou de que os deuses do olimpo me chamarão brevemente, ordeno-te que tempestivamente conclua abra do grande palco e teatro da arena Coliseum. Sabe filho? Ela trará muitas alegrias e o povo não se rebelarás contra ti. A memória infinita do porvir fará com que sejamos lembrados por toda a posteridade..."

- Ora... ora... profano escriba... Lá vem vós novamente com estas conversas abestaiadas e... Como podes ó vós escriba saber detalhes deste diálogo entre o grande imperador e seu filho? Não responda...

- Era eu um pretoriano... Estava a serviço da guarda imperial e ouvi tudo direitinho. Do jeito que estou a descrever agora... 

Pois bem: Já naquela época os governantes sabiam que entre um hospital de qualidade, uma escola ou qualquer outro equipamento urbanístico de uso coletivo e que oferecesse serventia de verdade à população, esta mesma população, medíocre, ordinária, imbecil, futil e ah... deixa pra lá. Não vou gastar meu português em buscar adjetivos para des'qualificar esta gente que prefere circo e pão à oficina de modelação da personalidade. Tô furioso. E quero destilar toda minha angústia e revolta hoje... Apenas hoje... Amanhã é natal...

Pois bem 2: Estamos vivenciando a mesma situação. Uma instituição (FIFA da p...) vem lá da casa do c... montar seu circo de futilidade não banca um centavo de nada e os Vespasianos do momento ainda torram o suado dinheirim do imposto gerado pelo cidadão eleitor contribuinte (Royalties para Helio Fernandes da Tribuna da Imprensa) montando estas arenas que em nada servirão para melhorar a qualidade de vida e a cultura desta já desculturada população de zumbis alienados.

É o fim da picada. Nos bastidores, escravos, digo... digos... operários vão perdendo vidas em jornadas extenuantes de trabalho para dar lucros aos mercenários detentores dos direitos de exposição do expetáculo...

E com dor ou sem dor... Tito inaugurará o conjunto (agora não é só uma. são várias) de arenas coliseuns... E para dar rentabilidade maior, nem precisará de cem dias de festas. Bastará pouco mais de um mês...

Tenho dito... E sempre!!!

Manuel de Jesus

Leia original clicando aqui...

TODOS QUEREM A TÂNIA PARA SI!

Ela caminhava de forma rápida e delicada em frente a minha simples residência, parecia sozinha, perdida, assustada, movendo-se de um lado para o outro como se não encontrasse o que queria. Apesar de eu não poder descrever com exatidão suas características, posso dizer que ela é uma fêmea linda, com um corpo exuberante, principalmente o bumbum, que é bem avantajado e chama a atenção dos homens que a procuram. Desculpem-me pela indiscrição. 

Ela é rara, aparece apenas de ano em ano por aqui, por isso é bastante valorizada. Sempre tive em minha mente o desejo de namorar e me entrelaçar com ela, de tê-la somente para mim, mas nunca tive a coragem para tal. Talvez, seja tarde demais e ela nunca tocará meus lábios. 

Para nunca esquecê-la, de maneira ágil e discreta, dela tirei uma foto. Agora, fico somente a olhar sua imagem, apreciando sua beleza, a espera de seu retorno, rezando para que outro não a possua. 

Como o considero um amigo, que sabe guardar segredo, compartilho com você a foto de Tânia. Para mais segurança, veja ela clicando AQUI.

Hélio Costa

sábado, 21 de dezembro de 2013

CONVERSA COM A CHUVA

Conversei com o barulho das telhas na tarde passada. Enquanto chovia, lá na calçada se ouviam os meninos que pulavam; pareciam ver Deus, ou um pedaço dele que chorava - de alegria - e transbordava sobre a terra sua euforia, nos relâmpagos distantes e na chuvarada, na lama que se formava do barro e que salpicava nos pés dos meninos. Foi uma conversa íntima, esta minha, sincera como aquelas que puxara inda pequenino, quando pensava que minhas ordens poderiam bem calar o céu de seus rancores e que minhas preces eram especiais o suficiente. E, sendo mais um dentre a porção vivente desta terra, meu fôlego ganhou potência, queria eu gritar pedindo clemência aos céus, mas preferi mesmo conversar na minha intimidade, das coisas simples, como a água que benze todo o chão.

Benedito Rodrigues

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

ALEGRIA DE VOLTA

Cai chuva no torrão do nosso sertão,
Alegra a caboclada,
Todos se preparam para plantar
Arroz, milho e feijão.

Também não é diferente para a bicharada,
Canta o galo-de-campina, canta a rola, canta a juriti,
No pouco de água que resta nos lagos é aquela alegria,
Canta o sapo e a gia, o caçote e a perereca.

A babuja começa a fofar a terra, 
Nossa caatinga solta seus brotos,
E dentro de poucos dias nosso torrão está aquela beleza.

Digo com toda certeza,
Com orgulho e gratidão,
Sou feliz de morar nesse sertão.

Joabi Teles
Estudante de Filosofia (UVA)
Cunhassu dos Sales, Coreaú - CE

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

NOITE PALMENSE

No rádio tocava uma música animada. Passava da meia noite e a insônia persistia. Pela brecha da janela observava um pedaço de rua deserta. Um coral de cachorros latia nos arredores. Um galo precipitado já anunciava a manhã distante. O locutor da rádio entrevistava um novo cantor baiano. No intervalo, a vinheta soava baixo na madrugada calma coreauense. 
– Sociedade, Salvador, Bahia! 
Deitado na rede da sala, com apenas doze anos, esperava ansioso o relógio marcar quatro horas para reunir os colegas da sexta série do Vilebaldo Aguiar e irmos para a educação física. 
Nem o balanço da rede conseguia atrair-me o sono. Algo me irritava a garganta. Na tentativa de aliviar o incômodo, forcei as cordas vocais e me saiu um som gutural estranho, repetido algumas vezes. 
Uma voz grave comentou no quarto do lado: 
– Leda, esse menino 'tá meio abestado! 
Não dei cartaz. Segui pela madrugada procurando o sono, sem conseguir tirar da cabeça a aula de educação física, resumida basicamente numa partida de futebol na quadra do Grupo. 
Do relógio da praça soou uma batida. Devia ser meia-noite e meia; uma da manhã, talvez; ou mesmo já uma e meia. Seria difícil jogar sem ter pregado os olhos durante a noite inteira. 
Às três horas, em ponto, a banda de música quebrou a monotonia da rua, tocando Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e Ravel em frente à casa de algum aniversariante. Chico Irineu no trompete e Canarinho no trombone aplacaram-me a inquietação. Desliguei o rádio. Menos tenso, tentei cochilar. 
Acordei com alguém batendo na porta. Era Raimundinho, Nonon e Chico. 
– Etim, 'bora pra física! 
Seguimos pela rua lateral. Despertamos Delmon, Pitica, Louro, Zoélio e Celino; depois, subindo pelo Rabo da Gata, chamamos Marcinho e Jean e partimos rumo à praça, onde já havia outro grupo. 
Depois de uma provocação insolente, Chico correu, em volta da Coluna da Hora, com uma pedra na mão, no encalço do irrequieto Jean. 
Como ainda era quatro e meia, fomos alguns à mercearia do Chico Cristino, tomar um café quente com tapioca de coco. Na volta, acordamos professor Ivan e, enfim, caminhamos para o futebol. 
Antes do início da partida, professor Ivan nos pediu alguns exercícios. Dez voltas na quadra miúda, algum alongamento, umas flexões abdominais... Nada para além de dez minutos. 
Jogávamos até às seis, quando a bola não se perdia pelos quintais vizinhos depois de um chute mais forte. Com o apito final do professor, seguíamos para casa pelas ruas estreitas da Palma, que já despertava lentamente para o novo dia.

Eliton Meneses

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

PENSAMENTOS INCOMUNS

Os Noivos nos Céus de Paris, de Marc Chagall.
Não consigo mais dormir;
Vivo pensando em você.
Já não sei o que eu faço,
Se amo ou tento te esquecer.

Tento pensar diferente,
Mas você vem à cabeça.
Será intuito ou lógica?
Algo pede que te esqueça?

Então, abro as portas de minha casa,
E sento à grama e começo a tocar
Músicas que nem sei o porquê de escutar.
Mas quando olho pro céu, bem lá está,
Nas estrelas, 
Que com o passar do tempo 
Começam a se formar
Num lindo rosto e, 
Na mesma hora,
Consigo te lembrar.  

Pego uma cadeira 
E a coloco no quintal, 
Só pra olhar as Três Marias,
Que com o amanhecer 
Formam uma bela face
Que me é familiar.

Mas olho de novo e vejo 
O Escorpião vem me matando, 
Pois não consigo disfarçar 
Que aquele rosto era o mesmo que,
Pela primeira vez,
Fez me apaixonar.

Tadeu Silva
Araquém, Coreaú - CE

NASCEDOURO DO NADA

O Nada
corta a carne
mais sanguinariamente
que o Verbo,
pois trespassa a palavra dita
e emerge das profundezas
imemoriais
do não-saber,
do não-dizível,
em cuja essência desregula-se a razão.

Eis o Nada:
a Criação
que perambula
a alma;
o que se vê
e o que não -
que traz resquícios
do momento-uno,
ou o não-momento,
em que tudo
efervesceu-se,
evaporou-se
e nasceu -
em silêncio.

Benedito Gomes Rodrigues

UM MITO DA CRIAÇÃO: A GÊNESES I


No “início”, tudo era o mais “perturbador” silêncio;
Nenhuma “fagulha” era produzida;
Nenhuma “nota” era emitida;
Não existia e nem houve nenhum intuito de “criação”;
Nada fluía;
Nada a ser “observado”;
Ninguém estava lá naquele momento de “criação”, de “inspiração”;
Ninguém!
Ninguém presenciou aquela metamorfose;
A não ser o próprio “Nada”;
Ali em seu “trono”, o “Nada” reinava em perfeito equilíbrio;
Sem nada para temer, “Ele” silenciava-se diante de seus próprios “suspiros”;
Aquilo que todos chamam de “tempo” ainda não existia;
Ou melhor, lá estava “fervendo” em processos de “fermentação” pronto para ser expulso das profundezas harmônicas;
Portanto, nada existia para “medir”, para “sentir”;
Assim o “Nada” reinava em seu “trono” desprovido de “espaço” e de “tempo”;
Existia sem “consciência”, sem “sentido”;
“Vivia” harmonicamente sem perturbação;
Ali estava o “Nada” jogado literalmente ao “nada”. Esquecido. Solitário;
Ali sim, o “infinito” “abraçava” todo esse “universo” imaterial, irreal, imutável;
Sem mais nem menos, aqui, ali, acolá, vibrações “emanam” das profundezas do “Nada”;
“Fagulhas” do “Nada” suspensas também em nada começaram a saltar em um movimento frenético dando nós em si mesmas, confusas como um casal apaixonado que se vê pela segunda vez;
Um movimento sem causa, sem criador...
Casualmente, algo começa a fluir;
Nesse instante, o “Nada” tremia novamente, desta vez, mais intenso;
O “infinito” sacolejava;
E o “espaço” se contorcia e se esforçava para vi à tona;
De repente, tudo se faz “silêncio” novamente como se esperasse um comando...
Mas a desordem emerge das profundezas pulsantes;
Agora tudo treme, tudo é perturbação, tudo é variação, tudo é desordem;
Vai-se gerando “ordem” aos poucos;
As “porções” do “Nada” que se enamoravam, agora se distanciam sem saberem se ainda irão se encontrar;
Surge então a variação de acontecimentos e com isso, o “tempo” nasce;
(...)
O que era deixa de ser. Nada será. Apenas é ou deixará de ser;
O “Nada” adormecido em seu sono cósmico desperta;
O “espaço” nasce dessa perturbação, desse desequilíbrio, dessa quebra de simetria, dessa imperfeição, dessa inquietação;
Surgem então as transformações, as mutações e, com isso, nosso mundo, não eu nem você, nem outro ser, mas uma fagulha do “Tudo”;
Agora sim o “AGORA” existe, mas em instante deixará de existir para se transmutar em passado;
Assim, dessa “dança do Nada”, deu-se corda ao Universo.
Ele começa a pulsar;
Dá-se a “gêneses” da música cósmica;
Ou seja, enquanto o “caldeirão” que “fervia” o “Nada” “borbulhava”, o “tempo” vibrava, jorrava-se mundo a fora;
Das pulsações de micronadas, a matéria emerge;
Enquanto isso, o “tempo”, ali de mansinho a observar aquela elegante transformação, faz anotações;
E então, criaram-se “migalhas” de matéria e foi ocupando aquilo que sobrou do “Nada”;
Então o “espaço” e o que sobrou do “Nada” vão sendo “preenchidos”;
O resto do “Nada” não é “espaço”, mas outra essência;
Então a matéria foi preenchendo todo o “espaço” ou os microespaços oriundos do “Nada”;
E foi preenchendo até gerar o que temos hoje;
O nosso universo observável e não observável foi criado;
(...)
Talvez um dia a matéria adquira um equilíbrio e reine assim como o “Nada” e ocorra novamente um desequilíbrio;
Quando isso ocorrer;
O “tempo” deixará de existir, o “espaço” também, a matéria sucumbirá e então:
Seremos novamente um “Nada” pulsante;
E depois, em um “sono” profundo, em um esquecimento cósmico...
Mergulharemos,
Para sempre?
Só o “Nada” poderá nos dizer;
Enquanto isso, o Universo continua a pulsar.


Marcos Souza
Professor
Araquém, Coreaú - CE

domingo, 15 de dezembro de 2013

TERMINADO O PRAZO DE INSCRIÇÕES PARA O 1º CONCURSO LITERÁRIO E COREAÚ

Terminou o prazo de inscrições do 1º Concurso Literário de Coreaú. Foram ao todo 13 inscritos com 17 trabalhos submetidos em prosa e poesia, que serão julgados pela APL até janeiro de 2014 – quando será divulgado o resultado oficial do concurso. Os casos de participantes de outros municípios, para os quais o edital não estabelece tratamento específico, serão avaliados pela APL. Segue abaixo, em ordem alfabética, a lista dos participantes inscritos:

  1. Airla Gomes Moreira Barboza
  2. Antonio Aionesio Souza da Silva
  3. Douglas Fabiano de Melo
  4. Everton Tolves de Almeida
  5. Flávio Machado
  6. Francisca Joyce Aguiar Azevedo
  7. Francisco Djacyr Silva de Souza
  8. Francisco Edilson Silva de Souza
  9. Francisco Kelvis Albuquerque Cavalcante
  10. Guilherme Brum Mena
  11. Hélio de Souza Costa
  12. João Silveira Muniz Neto
  13. Vera Vernaide Pessoa Cavalcanti

PENA DE MORTE, POR ANTÔNIO CIQUEIRA (ARAQUÉM)

Antônio Ciqueira, que atualmente trabalha como pedreiro no distrito de Araquém (Coreaú), tinha dentre seus escritos guardados alguns poemas e uma história em cordel, cedida gentilmente à APL para edição e divulgação. Seu contributo se soma aos demais já apresentados ao longo do ano de 2013 neste blogue organizado por nossa agremiação cultural, cujo papel estratégico tem sido denotar claramente que em terras coreauenses há pessoas com grande potencial para a escrita. Caso você escreva ou se expresse através de outra forma (como pintura, música, etc.), entre em contato conosco através do e-mail aplcoreau@gmail.com ou na aba "Fale conosco" do menu deste blogue, e mostre também sua contribuição para mais enriquecer culturalmente a Coreaú.

Abaixo, o texto na íntegra do cordel "Pena de Morte", com a revisão do acadêmico Benedito Rodrigues:

OLHAR

Pintura de José Augusto Coelho.
Deus nos deu o dom de falar,
Mas poucos sabem lhe utilizar;
Já eu prefiro falar com o olhar,
Por ser das formas a mais profunda, 
De um sentimento a se expressar.

Já são três horas da manhã, 
E ainda nada do sono chegar.
Talvez seja porque não é 
A hora de descansar.

Olho para um lado e para o outro,  
E não vejo nada para me inspirar
Mesmo cansado  
Vem a lembrança 
De um sorriso e um olhar
Que jamais pensei que um dia 
Iria me conquistar.
                        
O tempo vai passando e já começa a amanhecer,
E as estrelas já vão desaparecer.
Mesmo assim, continuo pensando em você.
Vejo que nada aqui descansei; 
Não sei se é amor ou, muito menos, paixão 
Mas ainda não consigo lhe tirar do coração.

O que ouço à noite, de manhã vira minha poesia, mesmo que não seja minha vontade, pois o verdadeiro poeta não é aquele que escreve poemas, mas aquele que o poema escolhe para ser o poeta.

Tadeu Silva
Araquém, Coreaú - CE

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

VERSOS SOBRE O TÚMULO

Por sobre meu caixão
Chove poemas
Versos se espalham
E são minhas flores
E tudo que tenho
Em tudo que há
Porque a poesia que usei
Não é minha
Ela, contudo, está na vida
Nas pessoas
No que perdi
Mesmo que nunca os tenha tido de fato
Nem os versos são meus
Se os enterro comigo
É por teimosia
E porque em cada traço
Há um pedaço de mim
Que se consumirá
Ante o silêncio da terra

Mas me consola
Saber chover versos naquele dia
Que não veio ainda
Mas me consola
Oh, irmão meu que ora me espreita!
Saber que tentarei vazar a tristeza
Com a leveza dos versos que quis fazer
E levei no desejo
De não tê-los escrito
Mas de tê-los vivido
Aqueles versos serão cada lembrança
E cada amor que plantei neste mundo
E do pranto se farão mais versos
E cada choro será poesia
E a alegria de quem quer ser poeta
Chora e ri da própria graça.

Benedito Gomes Rodrigues

PARTICIPE DO 1º CONCURSO LITERÁRIO DE COREAÚ


Ainda resta pouco mais de quatro dias para o encerramento do período de inscrições no 1º Concurso Literário de Coreaú. Confira aqui o edital e participe.

O OUTRO QUE EU RENEGO

A gente saboreia o pão no café da manhã. Sem pensar em quem suou tanto para que ele chegasse a nossa mesa. O leite está ali. Alguém acordou de madrugada para ordenhar as vacas. Mas esse alguém parece ser ninguém. O biscoito veio da padaria. Mas padaria, dona Maria, não funciona só. A chaminé de lá foi alimentada. O fogo não ficou tão alto à toa. Quando a gente vai pro trabalho, depois do bom cafezinho, senta-se na cadeira do ônibus conduzido por um senhor, que largou a cama de madrugada e está ali, apurando dinheiro e produzindo riqueza. Pros outros. No trabalho você se junta a uma turma que vai cortar, aparar, ajeitar, por e retirar,... Tudo isso por um salário que mal dá pro alimento, deixando fora dele a vestimenta, a medicação e o descanso reparador. E a gente vai vivendo, com a impressão de que as pessoas que nos ajudam a conduzir a vida não são... gente! É o nosso jeito de renegar o outro. E a nós mesmos!

João Teles de Aguiar
Professor e membro da APL

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O RÁDIO E O TEMPO

Velho rádio empoeirado
Que tantas valsas tocou
Hoje jaz lá na lixeira
Seu ex-dono o jogou

Não toca mais nada

O rádio, que falava
É mais um dentre os detritos

Morreu a valsa
Morreu seu glamour
Morreram os dias idos
Com quem os viveu
E com a ferrugem
Que os corroeu

Por que o rádio é diferente de nós?
Se nossa valsa volta e meia finda
Se nossa falsa esperança em nós mesmos
Ruir em suas bases

Por que o rádio é diferente de nós?
Que largamos a eternidade
E nos agarramos medrosamente ao tempo
E o tempo é indiferente
Contundente em seu moer de dentes
E nós tão pequenos.

Benedito Gomes Rodrigues

PRINCÍPIOS

Distraído, eu folheava meu livro, quando duas crianças passaram em frente à minha casa. De repente, a garotinha disse ao seu amigo “eu aceito seu pedido de desculpas”. Ambos deviam ter no máximo sete anos de idade. 

Cessei minha leitura e passei a meditar: como o mundo seria um lugar bem melhor, se as pessoas seguissem o exemplo daqueles dois, tanto do garoto que humildemente pediu desculpas, quanto da menina que fraternalmente a aceitou. Mas, enfim, que falta aquele garotinho cometeu para com a menina? Não sei, não importa, seu gesto de reconhecer o erro e, sobretudo, de solicitar perdão à menina sobressai-se ao motivo que gerou o pedido. E pensar que os dois são tão jovens! Contudo, talvez, eles cresçam, e o mundo ensine-os que não devem pedir desculpas quando errar, ou aceitá-los quando os outros os magoar. É como já diria Darwin “os que melhores adaptam-se, sobrevivem”. No entanto, queremos mesmo adaptar-nos a fazer desses costumes princípios em nossas vidas?  

Talvez um simples pedido de desculpas pareça indigno de atenção, todavia, pense bem, pois são ações assim, aparentemente supérfluas, que podem dar-nos uma leveza colossal em meio a um cotidiano estressante e cheio de inimizades.

Kelvis Albuquerque

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

À SEMPRE PALMA

no vento que eriça as carnaúbas,
na mulher que de palha faz chapéu,
no feijão estendido nas calçadas,
nos engenhos de cana e mel,
nos galos que cantam madrugadas,
nos serrotes coloridos de ipês,
nos açudes com os pulos dos meninos,
nos riachos lavadeiras cantam hinos,
na alegria simples de viver.
nestes todos que te formam,
terra nossa, Palma sempre
eis que aqui meu peito bate
como em que de mãe um ventre!
quero em ti vir repousar.


Benedito Gomes Rodrigues

NINGUÉM

O calor piorou depois do banho
 - Ninguém ao meu lado está!
O café não tirou o sono
Ninguém ficou de voltar.

Onde estará o quê de mim
agora que não sei mais quem sou?
Existe uma dor própria de morrer
ou é mera impressão
esse não sei o quê de amor?

Quais ventos me conduzirão?
Em que areias finas irei aportar?
De que me adianta pisar o chão
se não tenho ninguém a me esperar?

O que fazer com tanto
não sei o quê de angústia
com tantos incontáveis desamores
com abundantes amores em vão
que passam sem a intenção de retornar?

Onde está o que nunca tive?
 - será que existe?
O que faz de mim humano
se dos amores idos
só tenho boas lembranças
nunca saudades reais?

O que faz de mim humano
se penso que não sei amar?
Onde está o que a todo mundo é legado
e a mim, só Ninguém consegue decifrar?


20.set.2011

Neto Muniz
Cruz - CE

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

ESTE CORPO NU

Este corpo nu
Eu o sou
Com suas vicissitudes
E mágoas
Mas também
Desnudo
Eu o sou
Com sua coragem
E seus sonhos

Este corpo nu
Pura carne
Puro pó
Frágil
E finito
Guarda
Minha história
Não sou mais
Que o frio de cá
Não sou mais
Que o que faço
Da história
De minha carne.

Benedito Gomes Rodrigues

TEU SORRISO

Senti no teu olhar um sorriso sincero e encantador,
Fascinando o meu coração sem perguntar.
Percebi neste teu sorriso amor.
Encontrei nele o sentindo de amar.

Sentindo o coração disparado, as mãos tremendo,
Sem saber que fazer para me controlar.
Meus pensamentos voam no teu sorriso envolvente,
Não querendo perder um só momento do presente.

Sonhei tanto tempo com este mágico momento,
Você, ali, olhando-me, namorando-me, que alegria imensa!
Agora sabia que muitas seriam as horas em que poderia ficar a admirar teus sorrisos,
Sem me cansar de te olhar e sempre me apaixonar mais uma vez.
Seria eu e você neste mundo de românticos,
Onde a magia do amor rima com teu sorriso.

Juliana Maria
Coreaú/CE

domingo, 1 de dezembro de 2013

ONDAS


Ó vagas do mago vidente; 
Fúria inclemente do mar; 
Sinal de abismo iminente; 
Tropel de imenso cismar! 
De penas, a terra coberta, 
Num sopro irá se afogar; 
Ressoa o clarim de alerta: 
No cosmo, voraz renegar! 
O tempo é estrela cadente; 
Em terra anúncio de morte; 
Nos sinos, há lúgubre soar. 
Ao homem, no fim aparente, 
Lhe resta o bafejo da sorte: 
Da corrida aprender a voar.

Eliton Meneses