sexta-feira, 24 de maio de 2013

UMA FÁBULA À MODA PALMENSE

Num reino muito pertinho de nós, chamado “CROAHU”, situado numa “várzea grande”, havia um belo rio de magnífica ribeira, com águas límpidas e cristalinas. Numa época anterior à poluição, tão comum nos dias atuais, as aves bebiam das águas desse rio e nele as pessoas tomavam banho nas manhãs ensolaradas. Nas proximidades, vivia um REI que muito fazia para agradar os seus súditos. Porém, mesmo diante dum trabalho de Hércules para governar com soberania e altivez, não conseguia suprir as necessidades mais prementes do seu povo. E o tal rei resolveu buscar a solução mais sensata para poder honrar sua gente e merecer os elogios de um digno soberano. Então saiu mundo afora para tentar encontrar a maneira politicamente correta para a tão sonhada boa governabilidade. No meio de sua busca, ele encontrou uma senhora e fez a seguinte pergunta:

– Olá, como vai? Como a senhora se chama?

– Quem?! Eu? 

– Sim, a senhora! 

– Eu sou a VOZ DA CONSCIÊNCIA! O senhor não me conhece? Tem certeza? O que deseja de mim?! E o porquê da pergunta? Indagou a autêntica senhora.

O rei, humildemente, explicou a razão da pergunta.

– Sabe, senhora VOZ DA CONSCIÊNCIA, eu sou um grande rei, tenho muitos súditos e eles muito têm pedido o meu auxílio. Entretanto, não tenho conseguido fazer um reinado que realmente zele pelo bem-estar da sociedade, independentemente de quem quer que seja. Então, decidi olhar para dentro do meu mundo, dos outros “reinos”, olhar pra dentro de mim mesmo pra encontrar a resposta e solucionar este dilema. A senhora pode me ajudar? Ficarei grato e todo o meu povo!

– Ó, Vossa Majestade, sentirei o maior regozijo do mundo em poder fazer alguma coisa pela nação, e algo posso lhe dizer: tudo depende da sua consciência, da vontade política em querer mudar a realidade do seu reino. Mas conheço uma pessoa que lhe dará a resposta e a solução mais inteligente! 

– Quem é?!

– É uma senhora que está em TODO LUGAR!

– Não entendi! Onde ela mora?

– Ela mora perto de Vossa Majestade e de todos NÓS! É a senhora COMUNIDADE! Ela poderá ajudá-lo a encontrar a saída que tanto o meu rei procura.

Sem que o rei procurasse muito, logo ali estava a senhora COMUNIDADE, ao alcance de sua vista. Depois de um olhar atento, não foi difícil ao nobre soberano perceber que a senhora COMUNIDADE andava maltrapilha, cheia de necessidades, a mendigar o mínimo para sua sobrevivência. Mesmo com tal aspecto, a senhora se mostrava sábia a tal ponto de expor ao rei tudo o que sentia e sabia a despeito do seu governo. O soberano achegou-se a ela e pediu:

– Senhora COMUNIDADE, agora sei que somente você pode me ajudar e a todo o meu povo. Por obséquio, sem delongas e sem demora, diga-me o que posso fazer para receber o título e as honrarias de um autêntico administrador da coisa pública. 

– Senhor meu rei, estava mesmo à sua espera! Disse a COMUNIDADE. Até pensei que Vossa Majestade não viesse mais! "Palmas" pro senhor e vamos ao que interessa à nossa nação! Mas lembre-se: "A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las". Assim dizem os poetas!

– Olhe, senhor, um grande gestor precisa, antes de tudo, de uma boa assessoria, de excelentes "cortesões", precisa estar ombreado por pessoas sérias, competentes e que queiram o bem comum, ou seja, da COMUNIDADE. O senhor precisa, urgentemente, desfazer-se de um grupo "cancerígeno", tal qual cupim de terra ou barro de cemitério, que devora silenciosamente. Tome cuidado! Peça ajuda àquela senhora que encontrou no meio do caminho: a VOZ DA CONSCIÊNCIA. Veja, meu rei, tome precaução com os falsos amigos, com as falsas afinidades partidárias, com os "Judas" que cheiram e respiram dinheiro. Eles não são, decerto, amigos e súditos fieis!

Diante disse, o rei contestou:

– A senhora está enganada! Eu tenho verdadeiros amigos, leais a mim, que prezam por minha pessoa e não pelo prestigio advindo do poder que a mim foi dado.

– É ledo engano de sua parte! Retrucou a COMUNIDADE. Até mesmo Cristo foi traído na hora em que mais precisou. Jantando com seus discípulos, convivendo com eles, emprestando-lhes seu ombro amigo, Jesus foi, de repente, traído em troca de algumas míseras moedas de prata. 

Nisso, chega sorrateiramente, a VOZ DA CONSCIÊNCIA e declara: 

– No reino do “CROAHU”, temos um exemplo que dá nojo, senhor rei. Escute bem, veja só: já tivemos um rei, um grande homem que, infelizmente, o Criador o chamou prematuramente ao seu convívio. Ele era amado, bajulado pelos falsos amigos e correligionários. Mas, morrendo tal rei, antes mesmo que seu corpo esfriasse e fosse levado à terra fria, aqueles que diziam: "Senhor, eu te amo, eu sou fiel a ti, eu sou do teu partido", covardemente, correram para abraçar e pisar no "tapete vermelho" do sucessor do "trono". 

Depois de uma pausa, continuou a sábia senhora:

– Um grande rei não pode ser benevolente com pessoas que põem em primeiro lugar seus interesses pessoais em detrimento do bem público. Procure acompanhar-se de homens que o valorizem pela sua capacidade de trabalhar em prol da comunidade e afaste-se daqueles que o procuram simplesmente por causa do poder que ora ostenta. 

Em tom afirmativo, concordou a senhora COMUNIDADE:

– Isso mesmo, Majestade, acautele-se contra os beijos dos "Judas", contra as mãos frias de afeto e sinceridade que o senhor tem apertado. Esteja de olho vivo com as "continências" do dia-a-dia, imbuídas de interesses pessoais. Todo cuidado é pouco! Tenha muita cautela naqueles rituais do "beija-mão"! "Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo".

Mais uma vez pede a palavra a VOZ DA CONSCIÊNCIA:

– Senhor meu rei, gostaria que Vossa Majestade valorizasse mais os filhos deste solo, aqueles que aqui têm raízes fincadas. É sabido que o nosso "CROAHU" tem dado guarida aos forasteiros, a tal ponto do adágio popular dizer que nossa terra é MÃE para os estranhos, e MADRASTA para os legítimos filhos desta "PALMA" de chão. Comenta-se, meu senhor, que súditos de outros reinos têm "criado sebo no rim". E o nosso povo?! E a nossa gente?! Ó, senhor, que as minhas palavras ressoem na sua CONSCIÊNCIA. Assim seremos, segundo sua vontade, uma grande nação, um reino que trabalha pelo engrandecimento cultural, econômico e político de nossa gente.

Depois de ouvir tais considerações, o rei queda pensativo. Ergue-se em gratidão pelos conselhos recebidos e entra na sua carruagem real. Antes de partir, a senhora COMUNIDADE o chama:

– Espere senhor! Ainda tenho mais a lhe dizer: trabalhe incansavelmente pela educação (a redentora), pela saúde, pela infra-estrutura da nossa terra. Assim, Vossa Majestade terá a admiração, o respeito, o reconhecimento justo do seu povo. Tenha ouvidos sensíveis para os reclames da sociedade. Saiba que "apenas se vê bem com o coração, pois nas horas graves os olhos ficam cegos", como tão bem disse Saint-Exupéry. Não esqueça jamais de repassar esta nossa conversa ao seu sucessor, para que ele também aprenda que a POLÍTICA é a arte do bem governar. Que o seu espírito se eleve para ouvir a comunidade! Lembre-se sempre daquela mensagem do Pequeno Príncipe: "O que conduz o mundo é o espírito e não a inteligência". Senhor rei, vá e cuide muito bem de nosso "CROAHU", ele é a nossa "ROSA". Ah! mais uma coisa: "fuja do elogio, mas tente merecê-lo". Para tanto, faça um governo embasado nos valores da justiça, da liberdade e da fraternidade humana.

E o rei partiu, ruminando as tão sábias palavras ditas pelas duas senhoras que encontrara em sua viagem. Teriam elas razão?! 

Davi Portela
Membro da APL

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto caprichado, Prof. Davi Portela. Essas duas senhoras são essenciais, é uma pena que a arrogância e a falta de compromisso falam mais alto para muita gente por aí, mas a esperança não pode morrer, muito menos a militância.

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