domingo, 28 de abril de 2013

Pro(RE)gresso Científico

Ó progresso, a tua Ciência
Tem deixado muito em clemência
A guerra, a violência aumenta cada dia mais
Será que os conflitos não cessam jamais?

A ciência vale a pena? Nada vale a pena
Quando a alma é pequena

Bem sei eu que a ciência salva a nação
Mas sob o signo do progresso tem trucidado a criação
Quem quer passar além da dor
Tem que cultivar o amor
Deus ao homem a ciência deu
Mas é ela que contraria o céu.


Parodiando Fernando Pessoa, Mar Portuguez
Davi Portela
Membro da APL

Nos meus tempos de menino...

A grota cheia virava um lugar de fuzarca. O namoro do bode uma espiação. O do calando, uma gozação. Açude sangrando era motivo de festa; a cata de guabirabas era uma brecha (sem trocadilho) prum chamego. Um gancho de cipó era transformado numa bicicleta; o carrinho de roda era motivo de vaidade e status; dois pedaços de casca de pau, com uma folha verde no meio, virava uma gaita improvisada. O talo do pé de jerimum, idem. Uma árvore qualquer (de galhos generosos) virava um parque de diversão. Um buraco no chão - um barreiro -, uma farra coletiva. Nossa felicidade era tamanha, que punha pro alto as "necessidades" dos tempos bicudos; tempos em que as mães davam aos filhos o desenxabido mingau d'água. Assim, quando morria um boi, abatido pelo golpe cruel do machado, era uma semana de feriados e de barriga cheia. Nem a cabeça (com aquele olhos que nos seguiam) ia pro mato! A  gente quase aproveitava até o berro do bicho! Tempos difíceis de governos ausentes, distantes, insensíveis, acanalhados, (tempos em que ainda endeusavam um tal 'Vrigílio')... Como hoje!

 João Teles de Aguiar - sócio-fundador da APL

sábado, 27 de abril de 2013

TOSSE, SAI!

Pintura de Eros Oggi
Que tosse é essa?
Seca e invade,
Acomete-me,
Perverte-me,
Já a esta idade?
Cof, cof,...
De manhã e tarde...

Ah vá!

Nada de olhar miúdo...
Mundo mudo,
Muda, que dá,...

Ah vá!

E essa tosse,
Não vai me largar?
Creio, uma inquietação,
Bem ao fundo do pulmão.
Deixem-me respirar!

Ah vá!

Só me restabeleço,
Eu mereço,
Se andar,
Se erguer,
À luta!

Aí vou!

Benedito Rodrigues

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os comboieiros da Zona Norte

Na zona norte do Ceará existia muitos comboieiros nas décadas de 1950,60,70 e 80. Geralmente partiam da serra e do sertão para a praia. Existiam também os que se deslocavam do sertão para a serra. Quem partia da serra para a praia levava rapadura,mel, cachaça, bolo manzape,batida, polpa de frutas, etc. Da praia traziam basicamente farinha e peixe. Faziam o que hoje fazem os caminhoneiros. Nas cidades costumavam parar. Ali alimentavam-se, alimentavam os animais (jumentos e burros),faziam negócios rápidos, conversavam entre si e com a população e compravam víveres. Depois, sob o estalar das macacas, a tropa era tocada. Tomava o caminho da lida!


SOB O ESTALO DA MACACA 

A macaca usada pelos comboieiros era feita de corda grossa, em geral, relho (couro de boi, cru). Era longa, tinha cabo curto e na ponta uma pequena tira de corda de tucum. A chicotada doía uma barbaridade. Um estalo forte, um toque no animal e o coitado saía, atravessado, se vendo de dor. Muita gente "botava sentido" naquela arrumação. Mas fazer o quê ? Se falasse pegava carão do comboieiro, geralmente um homem muito trabalhador, mas muito rude. 

COMBOIEIROS: VIDA ÁRDUA!

Os homens da macaca tinham vida dura. Passavam até dois meses fora de casa. Na retaguarda ficavam a mulher (ou mãe) e os filhos. Todos sentiam saudade."É de cortar coração!". Mas sabiam que, no final da viagem, aqueles homens tinham um bom descanço e, quem sabe, até poderiam abrir um roçado, uma pequena broca. A fartura de peixe e farinha cheirosa vinha em sacos de palha de carnaúba, chamados surrões. Não usavam os cestos de tiras de galhos, chamados grajaus. A família tinha um bom tempo para acabar com aqueles produtos tão desejados. Quando estava chegando o fim da abundância, lá se iam os homens de novo, para nova viagem pesada. A saudade chegava antes! 

João Teles de Aguiar
Membro da APL

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sou Índio, sou brasileiro. Sou independente?

Sou brasileiro!
Mas tenho vergonha do passado
E do presente!
Quando aqui chegaram “os donos do mundo”
Pra usar o alheio e servir de mau exemplo às futuras gerações – presente vivido
Portanto me envergonho do que aconteceu em mil e quinhentos...
Sou brasileiro!
Mas tem uns “mas” ... e mais:
Mas tem pessoas desonestas
Mas tem prostituição infantil
Mas tem o perigo constante
E é aí que baixo minha cabeça
Quando me lembro da corrupção com consequências imediatas
Posso até dizer que sou brasileiro...
Mas preciso dizer tantas coisas:
Salário minguado
Desvios de verbas
Paraísos fiscais

Também tenho que dizer:
O paraíso dos ricos é o inferno dos pobres.

Sou brasileiro!
Mas queria ser daquele belo tempo
Dos índios tupis
Da tribo guerreira
Do povo caraíba
Dos Jês e Tupinambás.
Queria ser do tempo
Em que ninguém era brasileiro
Não precisávamos de dinheiro.
Vivíamos em tribos reunidas, compartilhando os mesmos ideais.
Não havia corrupção, nem ganância pelo poder.
Não havia miséria, nem salários de fome.
Vivíamos da terra, do que nos dava a Mãe-Natureza.
A aldeia era o nosso lar.

Mas amo minha terra
Ela não tem culpa
Só quer o nosso bem-estar social...
Bem que ela tenta produzir e repartir o pão

Davi Portela
Membro da APL

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Tédio

Sem assunto,
Sem motivo,
Sem rumo,
Eu me privo,
Cansado
De viver.

Sem causa, 
Sem sentimento,
Sem coragem,
Meu tormento:
Não saber
O que fazer.

Olho acima, 
Abaixo,
E o lodo ao lado
Só me faz desanimar.
Que lodo sou?
O que estou
Aqui a questionar?


Ah, tédio meu!
Não quero ser patético,
Perdido na preguiça,
E no passatempo a procurar...
Tenho tão pouco...
Tão pouco...
Tão pouco...
Tão pouco...
Tão pouco...
Pra parar.

Benedito Gomes Rodrigues

sábado, 20 de abril de 2013

A TRAGÉDIA DA BARRAGEM


Era começo da manhã do dia 20 de fevereiro de 1985, uma quarta-feira de cinzas de um inverno chuvoso. Há poucos dias fizera sete anos de idade, mas recordo do acidente como se fosse ontem. Com a cheia do rio, retornávamos das compras do dia com água no meio da canela pela rua de baixo inundada. Piedade erguia a meia altura a vasilha com uns poucos mantimentos e caminhava lentamente sem atinar no mundo em sua volta. Meus olhos não desgrudavam da canoa que atravessava com dificuldade a forte correnteza. Tentei alertar minha irmã. Ela não deu atenção. 

Notei que havia algo errado. A canoa realizava a travessia quase numa linha reta, quando o normal seria subir um pouco o rio, para formar um semicírculo. Quase no meio do rio, a canoa começou a se aproximar perigosamente da velha barragem encoberta pelas águas turvas da enchente. Os remadores, percebendo o risco, redobraram o esforço para recuperar o controle da pequena embarcação apinhada de pessoas e pertences que vinham do interior para a missa de cinzas em Coreaú. 

Com a barragem se aproximando, a proa da canoa foi voltada contra a correnteza, numa tentativa desesperada de retomar o trajeto natural. Com o esforço enorme dos remadores, a canoa, por alguns momentos, deteve a queda rumo à barragem, mas sem conseguir subir um único metro rio acima. A partir daquele momento, todos na então movimentada rua de baixo voltaram suas atenções para a batalha dos remadores contra a força da correnteza, num alvoroço enorme. 

Depois de alguns momentos, os braços exaustos dos remadores não mais resistiram à força da correnteza e a canoa começou a descer inexorável o rio, até encontrar os pilares submersos da velha barragem. Nos pilares, a canoa se firmou por alguns instantes. Quem sabia nadar lançou-se logo nas águas agitadas abaixo da barragem. Os remanescentes, especialmente idosos, mulheres e crianças, ficaram agarrados uns aos outros clamando desesperadamente por socorro. 

Algumas testemunhas da tragédia lançaram-se nas águas para salvar os náufragos. Recordo particularmente do ato de heroísmo de Tium e de João Velha, mas outros tantos ajudaram no resgate, inclusive os próprios remadores. 

Momentos depois, já com poucas pessoas a bordo, a canoa perdeu o equilíbrio nos pilares e emborcou, lançando nas águas quase todos os passageiros remanescentes. Nesse momento, testemunhei boquiaberto um jovem passageiro, menino ainda, acompanhar habilidosamente o giro da canoa e se instalar no casco, equilibrando-se precariamente, até que, cedendo aos apelos de Tium, saltou na água assustadora e foi resgatado antes da curva do rio. 

Na tragédia, seis pessoas perderam a vida. Três corpos foram encontrados, outros três foram declarados desaparecidos. Durante vários dias, pescadores realizaram buscas orientados por uma cabaça e uma vela acesa dentro, que, segunda a lenda, seria atraída pelo corpo do náufrago, girando em cima dele quando o encontrasse. 

Conta-se que, na véspera do naufrágio, o rio havia roncando, produzindo um som estranho que seria o prenúncio da tragédia. Alguns falavam num caixão misterioso arrastado pelas águas do rio na noite anterior, além de outras estórias mais. 

Depois do acidente, João Velha recebeu reconhecimento pelo ato de heroísmo; Tium, reconhecimento e a remissão de uma condenação criminal. A canoa obsoleta levada pelas águas foi substituída por uma mais moderna, adquirida às pressas pelo prefeito em Sobral. O canoeiro contratado para comandar a nova embarcação, por coincidência, foi Oneon Bezerra, meu pai. 

Pouco tempo depois, porém, quiçá pelo alerta da tragédia, uma ponte estreita foi construída, desviando o leito do rio e acabando definitivamente a era da barragem e da travessia de canoa.

Eliton Meneses
Membro da APL

sexta-feira, 19 de abril de 2013

É... Somos nordestinos

É!
É sim!
Dentro de mim, tem alguém dizendo: “faça valer o nosso amor”!
Fora de mim, tem sangue e suor!
No meu sorriso, quero estrelar o nosso humor e emoção!
Somos nordestinos!
É sim! Somos do bom e do melhor!
É sim! Somos calor, sol e mar no coração.
Não temos cara de panacas!
Não somos babacas!
Somos uma nação na Nação!

É! É! É! É! É! É! É! É!...
A gente quer direito em plenitude.
Queremos cidadania.
A gente repudia a hipocrisia!
É!
Somos “o pinto dentro do ovo, aspirando ao mundo novo”!
 Assim poetizou o pássaro de Assaré!
Dentro de mim e de nós, tem um Gonzaguinha!
Tem o brioso poeta-cantor filho do Rei do Baião!
Aquele poeta com força na pena, de letras que exala cidadania e  determinação!
No Mucuripe deste Siará Grande, esta bela e grande tribo disse não à cruz e ao canhão!
Somos nordestinos, mas “"nordestinados”, não!!


Davi Portela
Membro da APL

quinta-feira, 11 de abril de 2013

SOS PENANDUBA




Ao ler a descrição, fiel descrição, da corajosa e destemida subida à montanha dos jovens desbravadores, Augusto, Benedito, Hélio e Tainá, até o cume da Serra da Penanduba, fiquei impelido a reconstruir algumas imagens-sentimento de um passado já distante sobre as onças-pretas, macacos-guaribas, raposas, veados, cobras cascavéis, cobras jiboias (cobra-de-veado) e gatos-maracajás (jaguatirica), que eram os componentes da fauna desta formação montanhosa chamada de Penanduba, localizada próximo a Araquém, distrito pertencente ao município de Coreaú, no Estado do Ceará. Era e é uma área praticamente desabitada pelo homem, mas contumazes ações e explorações deletérias do próprio homem contribuíram para que seu rico ecossistema fosse praticamente dizimado. 
Coreaú, na primeira metade dos anos cinquenta do Século XX, era provida de poucos arruamentos desprovidos de calçamento. A iluminação pública só funcionava no horário das 18 às 22 horas, período em que os habitantes adultos sentavam-se em cadeiras nas calçadas em rodas de papos – Jornal da Noite – referentes ao cotidiano da população, enquanto as crianças brincavam de contar e ouvir estórias, esconde-esconde, pernas de pau, jogo da macaca, e os mais taludos flertavam com as meninas que jogavam pedra, brincavam de roda, de prenda e de anel com os meninos. O anel, ao ser colocado escondido nas mãos de um dos participantes, era motivo de fantasiosas sensações durante o roçar das mãos das meninas com as dos meninos, daí surgiam muitos namoros e casamentos. 
Muitas estórias estão presentes no imaginário dos coreauenses presentes e de antanho, algumas associadas aos mistérios da Serra da Penanduba e manifestadas nas estórias de trancoso, e muitas incorporadas ao domínio público por decorrência de contos e causos criados por caçadores e figuras populares tipo Chagas da Onça, pacato conterrâneo que além de muito trabalhador e ligado à ambiência campesina, era exímio contador de causos e histórias com mirabolantes versões tipo ter visto uma formiga gigante nos altos de uma carnaubeira a se alimentar do seu fruto. Nos anos cinquenta era comum ver esticados para curtição solar, nas calçadas de Coreaú, couros de jiboias, veados e gatos-maracajás (jaguatirica), resultantes da caça predatória, que, depois de secos e curtidos, eram vendidos aos comerciantes de Sobral e, a partir daí, seguiam em demanda para Fortaleza, São Paulo e exterior e transformados em sapatos, roupas e disputados acessórios de uso masculino e feminino. 
Àquela época, o nível de consciência ecológica da população era quase inexistente, o que contribuiu para a dilapidação do ecossistema, o que ainda continua até hoje, talvez de forma menos intensa. Em todo caso, aquilo, na minha meninice, causava-me mal estar em ver os “frutos” da matança dos animais. Em consonância, um temor era gerado pelas fantasias descritas pelos caçadores que iam desde a existência de caiporas e coisas do “outro mundo”, até ferozes onças-pretas, talvez uma forma de compensação para a dor de consciência e suporte de justificativa daqueles que provocavam a trágica matança e agressão à natureza. 
Os ipês ou paus-brancos, além de outros espécimes vegetais, foram praticamente dizimados e não replantados. Nada restou, a não ser a bela montanha que divisa com a Frecheirinha, bela e azul ao longe, mesmo desmatada, mas árida e quase desértica na visão próxima de sua área territorial, situada bem no epicentro do semiárido do sertão onde se encrava Coreaú e municípios circunvizinhos. As fontes d’água gostaria que ainda persistissem, estas são minhas esperanças e quem sabe possa ressurgir um projeto ou programa de revitalização do ecossistema com a necessária e educativa proteção ambiental, de todo o espaço da serra e que, por decorrência, poderia se adequar ao ecoturismo de trilhas, ideia já sinalizada pelos desbravadores citados, pois imagino que no seu cume ainda resta algo da bela natureza, além de uma temperatura mais amena que deve se reduzir em pelo menos 3ºC entre a máxima e a mínima da região, pois pertinente ao clima de montanha.

Galba Gomes 
Membro da APL

terça-feira, 9 de abril de 2013

A vida é bela

Apesar de vivermos num país onde imperam as desigualdades sociais e a violência urbana, temos que acreditar nos nossos sonhos, porquanto a vida é bela. 
O ser humano sem um projeto de vida, sem um objetivo é um passante comum. Por seu turno, quem consegue enxergar além do seu tempo, organizando-se, planejando ações e contribuindo para o crescimento da sociedade, participando ativamente dela, indubitavelmente terá o nome insculpido de forma indelével na memória de seu povo. 
Há pessoas que amargam alguma desilusão, carregam consigo algum trauma ou se submeteram a alguma situação de desprazer, de desgosto e, por isso, deixam de acreditar na vida, na beleza da existência, vivendo por viver, sem ânimo, sem alegria. 
A vida é para ser vivida em sua plenitude, apesar das adversidades, pois problemas todos temos, e quem já não os tem, logicamente, já passou para o outro plano. E todo problema tem solução. 
Somos, sob a égide da Providência Divina, dotados de razão. Portanto, com racionalidade, temos plena capacidade para atravessar as mais altas barreiras que erroneamente julgamos intransponíveis. 
Coreaú-CE, 09 de abril de 2013. 

FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE
Professor
Membro da Academia Palmense de Letras (APL)

Crise de valores morais

A humanidade tem conseguido uma evolução mental extraordinária a partir do Renascimento, quebrando tabus e desmistificando históricas fantásticas, ingressando no campo científico e, assim, tem explicado, racionalmente, fatos outrora tidos como inexplicáveis. Isso ocorre porque o homem é dotado de razão e tem um poder de linguagem ímpar, diferenciando-se, por conseguinte, dos demais seres que habitam o Planeta. Conquistamos muitas coisas e muitas outras temos para conquistar. Entretanto, o ser humano ainda precisa aprender a conviver em harmonia com seus pares, de modo que a tão almejada paz social seja alcançada a contento, o que é possível somente se desenvolver ele virtudes individuais e coletivas. 
Encontramos no dia a dia indivíduos que só pensam em si, só pensam em dinheiro, só pensam em acumular bens materiais, esquecendo-se de valores como a amizade, a solidariedade, o altruísmo, o companheirismo e, para os mais românticos, o amor. Esquecem-se do seu lado espiritual, da presença de uma força transcendental que conduz o existencialismo (Deus). 
Os crimes, em quaisquer partes do mundo, não importa a sua natureza, na maioria dos casos, hodiernamente, têm sua prática vinculada à questão do ter (materialismo) em detrimento do ser, da essência humana e das boas relações interpessoais. 
Haveria lucidez econômica e social se os grandes empresários e os agentes governamentais olhassem para os outros quadrantes da vida: as necessidades dos pobres de dinheiro, para as desigualdades de toda ordem, e se sensibilizassem, promovendo grandes transformações no modelo social que aí está, melhorando-o. Pior do que a propalada crise econômica mundial é a crise de valores morais pela qual atravessamos. Pense nisso. 
Coreaú-CE, 09 de abril de 2013. 

FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE 
Professor e Membro da APL

Maior palavra da língua portuguesa




Antonio Houaiss (1915-1999), carioca, foi professor, dicionarista, filólogo, tradutor, diplomata, ex-ministro da Cultura, ensaísta e também presidente da Academia Brasileira de Letras. Ele deixou concluído um dicionário com 300 mil verbetes e propôs a reforma para unificar a ortografia dos países que falam a língua portuguesa (os chamados países lusófonos). 
Há uma curiosidade no novo dicionário de Houaiss (pronuncia-se uáis) à qual muitos brasileiros ainda não atentaram: o registro da maior palavra da língua portuguesa, formada por 46 letras. Trata-se de "pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico", cujo significado é "estado de quem é acometido de uma doença rara provocada pela aspiração de cinzas vulcânicas". 
Portanto, para quem tinha dúvida a respeito da grafia da maior palavra em Português registrada em dicionário, está aí à disposição dos leitores mais esse verbete. Quem se arriscar a memorizá-lo, sugerimos dividi-lo a partir dos radicais e prefixos que o formam, como "pneumo" e "ultra", e assim por diante, até decorá-lo na íntegra. 

Coreaú-CE, 09 de abril de 2013.

Fernando Machado Albuquerque
Professor
Membro da Academia Palmense de Letras (APL)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O ROCEIRO É “ANTES DE TUDO UM FORTE”

Não dá mais para mudar
O que é modo de vida.
Assim vive o roceiro,
Eita que vida sofrida!
Mesmo naquela secura,
E pede a Deus nas alturas,
Benção, coragem e guarida!

O roceiro vive assim:
A enxada é seu trator,
O fogo é limpa chão,
Eis aí o seu labor!
Pois o suor cai na terra,
Mas não reclama nem berra
E tudo faz com primor!

Quando broca o seu roçado,
Ajunta logo a coivara,
O garrancho espinhento,
Faz aceiro, juntas as varas.
Lá vai fogo, São Lourenço!
A camisa é o seu lenço
E tira o suor da cara!

Assim fala os “Sertões”
Do Euclides da Cunha
“É antes de tudo um forte”
Se conhece pelas unhas
É o guerreiro do norte
E cumpre bem sua sorte
Eis aí sua alcunha!

Davi Portela

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Versinhos sertanejos

De uma enxada boa e nova
Eu corro uma meia légua
Sou um fraco nesse ramo
Um grande mama-na-égua
As perninhas só bambeiam
Da grossura de uma régua!

É difícil suportar
A canseira, o cansanção
E o suor correndo em bicas
Oh, meu nobre São João
Me livra de todo o mal
Não quero nem sonhar, não!

Ando fraco, meu santinho
Uma três libras não, não
Eu ando mais alteado
Que altura de anão
Ando brejando nas calças
Oh, senhor, ou senhor, não!

Por João Teles de Aguiar
Membro da APL

APL nomeia dois novos membros-efetivos

A Academia Palmense de Letras (APL) nomeou o casal Anatália Carvalho e Davi Portela para ocupar, respectivamente, as cadeiras de n.º 7 e de n.º 8 da entidade. 

Anatália Carvalho é professora de Português e Literatura e atual Diretora da EEEP Deputado José Maria Melo (Guaraciaba do Norte), possuindo vasta produção textual, algumas inclusive publicadas na Revista Veja. Davi Portela é professor de História, poeta, chargista, e conta com apreciável produção artística, veiculada nos mais diversos meios de comunicação.

Aos novéis membros da APL, nossas efusivas saudações e nossos votos de boas vindas, com o registro  especial de termos na entidade a primeira representante do sexo feminino!

Eliton Meneses
Membro da APL

Pizza à brasileira

Que corrupção!
Que vergonha nacional.
Brasil da dança da pizza.
Brasil, a estrela se apagou.
“Brasil, mostra a tua cara”
Cara de mensalão!
Cara do caixa dois!
De pizza com dissabor de vergonha.
Da dança desavergonhada.
Brasília, tenho vergonha da tua cara.
Cara de nepotismo
De continuísmo
Da releitura de governos de outrora
De políticos que não dividem “o pão nosso de cada dia”,
Pois repartem consigo a pizza dos larápios.
Brasil, esta é a tua cara?!
Cara de políticos do venha a “nós o vosso reino”,
E ao povo, Deus dará.
Que país é esse?
É o país dos PHDs em corrupção!
É o país da bolsa esmola que vicia o cidadão.
É o país do “fome mizera”.
País que prende o pobre ladrão de galinha – uma “merreca”!
Mas não enjaula o marajá de colarinho branco com dinheiro na cueca.
Brasil da decepção!
Brasil da depravação!
Brasil da grande mordida do leão
Onde o lema é: “um pra tu, dois pra eu”!
País que pede com a “esquerda” e extorque com a “direita”
Brasil do imposto sem renda,
Das garotas à venda,
Talvez pra gerar receita!
“Brasil, meu Brasil brasileiro”.
“Terra de samba e pandeiro”
“Ó pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!”
Onde até a impunidade tem cadência,
Na dança da indecência.
Brasil! Tu precisas de uma limpeza moral.
Brasil das CPIs
Que terminam em pizza com recheio de impunidade.

Davi Machado Portela
Membro da APL

Me fales um pouco e te direis quem tu és

Há algum tempo atrás escrevi um artigo sobre o modo de falar do povo coreauense. A motivação para escrevê-lo partiu de exemplares de fala que costumava ouvir de meus conterrâneos e várias vezes flagrava-me usando as mesmas expressões, porque a língua está no sangue da gente. Senti-me atraída por esse jeito gostoso e poético de falar, típico do cearense e fortemente presente no dialeto local.

Sou particularmente aficicionada pela linguística e me encanta a poesia modernista porque reconhece na linguagem popular as belezas do nosso idioma. Tão bem cantou o poeta Manuel Bandeira quando escreveu: “Língua certa do povo / Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil”.

Assim, colecionei algumas ocorrências de fala do coreauense, que sendo da cidade ou do campo (em essência somos todos rurais), utiliza renitentemente tais expressões. Várias delas encontram-se registradas no “Orélio Cearense”, uma publicação que compila inúmeras palavras do linguajar cearense. E é natural que algumas das ocorrências linguísticas aqui abordadas mantenham pontos de contato com o dialeto cearense, pois a cearensidade é parte de cada um de nós.

Como uma cidade de pequeno porte, Coreaú não possui uma atividade industrial intensa e, por conseguinte, as oportunidades de emprego no lugar são ínfimas, o que determina a coexistência de dois processos migratórios: um externo – os habitantes, em sua maioria, jovens, saem do município em direção a centros urbanos que lhes garantam chances de trabalho; e outro, interno – os rurícolas deslocam-se para a cidade em busca de uma vida mais confortável, que não seja tão “dificultosa” como eles mesmos dizem.

O êxodo rural, que tem se intensificado nos últimos anos, foi ao longo do tempo constituindo a sociedade urbana coreauense. A maior parte da população jovem que mora na cidade tem entre os seus ascendentes (pais ou avós), pessoas com “raízes” rurais. Esse deslocamento do campo para a cidade, comum também em outras localidades, trouxe consigo muito da cultura e da língua praticadas no campo. Os rurícolas, por seu turno, tentaram assimilar alguns costumes típicos da urbe que ora passavam a habitar e, por outro lado, influenciaram-na com sua cultura, sua língua, seu modus vivendi.

Os exemplos analisados a seguir pertencem, pois, ao dialeto inculto, ou semiculto do falante coreauense, resultante de variações da norma culta atual. Eis abaixo alguns exemplos: 1) palavras como leblina e lutrido ao invés de neblina, nutrido; 2) o acréscimo do a no inicio da palavra azunhar, alevantar, atrepar, avoar, avexame, alimpar entre inúmeros outros exemplos; 3) os termos espertar, escadeirado, istruir e istruição bastante usados na linguagem corrente local sofreram perda de fonema; 4) palavras como dificulidade, fulô, difuluço são utilizadas em substituição a dificuldade, flor e defluxo; 5) é corrente o uso de cósca, córgo, fósco, landra, musga em referência a cócegas, córrego, fósforo, glândula, música.

Outras ocorrências são perceptíveis no uso de expressões como agarrar no sono (dormir), botar boneco (promover briga ou desordem), dar o prego (ficar com defeito), pé de pau (árvore), quando acabar (depois), rebolar no mato (jogar no lixo), só quer é ser (orgulhosa), umas poucas de vez (várias vezes).

Os saberes culturais da população coreauense, como de qualquer outro povo, não se manifestam apenas na língua, mas estão presentes nas crenças populares, nas danças, nas rezas etc... É um aspecto de nossa identidade que merece nota, com vias de preservar esse legado e valorizar nossas tradições.

Anatália Carvalho A. Portela
Membro de APL

Dr. Givago Sucupirano ou quiçá Mr. and Mrs Garden

A intensidade do amor de Tião por Fulô e quiçá vice-versa é proporcional às consequências dos desencontros... Entre trancos e barrancos viveram desde tenra idade altos e baixos... Nada fora fácil... E tudo parecia conspirar contra... Será? São tantas perguntas... E se naquela primavera longínqua do passado Tião tivesse agido contrário? Ao invés de fugir Tião tivesse atacado... Mas não... Tião além de ingênuo fora covarde... medroso... Se achava um incompetente... Preferiria viver anos numa vida ermitã a dar provas públicas de que não seria capaz de honrar e bancar sozinho um jarro confortável para acomodar Fulô... E assim foi... Colhida precocemente por falso jardineiro, Fulô não murchara, muito pelo contrário... Continuara radiante... Mas agregaram a si e com justa razão qualidades que outrora não as tinha.... E isso deixava Tião inconformado... E agora José? Digo... digo... Tião? 

Tenho dito... E sempre!!! 

Por Manuel de Jesus

terça-feira, 2 de abril de 2013

A caligrafia dos médicos

A Medicina é uma das mais antigas e belas ciências da humanidade, cuja aplicação se dá com as profissões médicas. E o profissional da Medicina exerce, sem dúvida, um nobre mister, quase divinizado, porquanto lida com vidas.

No entanto, queria discorrer sobre uma prática que, aos olhos do bom senso, não deveria ser concebida por médico nenhum. Trata-se do hábito deplorável que ainda persiste, em certos consultórios médicos, de se passarem receitas aos pacientes de forma manuscrita e totalmente ilegível, constituindo, assim, responsabilidade profissional, consoante o Código de Ética Médica, que entrou em vigor aqui no Brasil em 13 de abril de 2010, depois de ser revisto, atualizado e ampliado a partir da Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.931, de 17 de setembro de 2009.

Veja-se o que preconiza, “in verbis”, o art. 11, do Capítulo III, que fala da responsabilidade profissional dos médicos: “É vedado aos médicos: [...] art. 11. Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível (grifo nosso), sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho regional de Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos.[...].”

Constata-se, então, que seria de bom alvitre, não só por uma questão de ética, mas de respeito ao paciente, que aqueles doutores da Medicina que ainda teimam em receitar com “garranchos”, mudassem de postura e escrevessem de forma clara e legível suas prescrições, ou quando não, fizessem-no munidos de um computador e impressora. 

Coreaú-CE, 02 de abril de 2013.

Fernando Machado Albuquerque
Professor 
Membro da Academia Palmense de Letras (APL)